A Cidade dos Esquecidos (Capítulo 16: Uma Migalha Sobre a Inferioridade Humana) - versão antiga

Alexia foi até a academia da casa. Era onde ficavam os diplomas, um aparelho de som, uma esteira ergométrica e um espelho que ocupava uma parede inteira. Lá, Alexia encontrou Magdalena a dançar animadamente ao som de um hip hop intenso. Ana e a genia que ressuscitou seu pai, não se falavam muito verbalmente, mas trocavam olhares seguidos de sorrisos sinceros e mágicos. Foi um desses olhares costumeiros que puxaram um sorriso intenso dos lábios de Alexia, convidando-a para se juntar à dança. Era noite e alguns zumbis erravam pelo quintal gramado da mansão. Alexia os via pela janela quadriculada do quarto quando passava por ali sem querer durante a divertida dança com a genia Magdalena.

Mais tarde, Alexia foi para o seu quarto. Preocupou-se com o fato de que Magdalena desapareceria muito em breve, afinal a menina já havia feito seu último pedido. Alexia se perguntava para onde iam os gênios presos em suas lâmpadas. E mais ainda, perguntava-se porque chamavam aquele bule dourado de lâmpada. De qualquer maneira, ela se sentiu triste por Magdalena e foi procurar a genia.

- Porque está chorando? - perguntou Alexia, quando encontrou Magdalena chorando no porão obscuro, debaixo do cemitério do quintal.

- Porque vocês humanos são todos burros demais.

- Quê?

Alexia ficou incrédula.

- Ora. Eu sou uma genia, Alexia. Sei de tudo e muito sobre tudo. Por isso consigo realizar tudo o que as pessoas pedem. Mas isso me torna inferior perante uma gente que me é inferior. Entende?

- Sim.

- Sendo, é claro, que não me são inferiores.

- Perfeitamente, Magdalena.

A genia encontrou um esforço genuíno de compreensão no olhar sério de Alexia.

- Você não precisava ser tão sincera, Magdalena.

- Eu sei, querida. Desculpe.

- Porém, comigo você sabe que pode ser.

Disse Alexia sorrindo.

De repente, Alexia virou-se e começou a correr, e pela primeira vez em milênios, Magdalena não compreendeu o significado daquela atitude.

Quando Alexia parou de correr, estava na praia. O cheiro da maresia e o ar fresco vindo do mar a estava anestesiando. Ela se sentia confusa e intensamente satisfeita por ter feito o que não era comum. Algo surpreendente e espontâneo. Um experimento pessoal para com a existência universal. Ela se sentiu pequena diante a grandeza do oceano e da potência emocional do carinho do vento noturno. Isso a fez pensar na vida, no universo e em tudo o mais. O vento, então, chegou para apoiá-la. As partículas de oxigênio movimentavam-se velozmente, sacudindo os cabelos longos e loiros de Alexia. Acariciando seu rosto e assobiando uma maravilhosa melodia assombrosa pela praia.

Ulisses Alves
Enviado por Ulisses Alves em 06/03/2014
Reeditado em 20/11/2015
Código do texto: T4717280
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