Entenda-me se for capaz Capítulos I e II
Capítulo I: O sumiço de André
André chegou ao meu apartamento completamente desnorteado. Havia cometido um grande erro. Ao vê-lo, me preocupei em ajudá-lo. Dei-lhe um copo com água e esperei que se acalmasse e explicasse alguma coisa. Pôs-se a chorar desesperadamente. Minutos depois, após todo drama, começou a desabafar. Fiquei pasma com tanta revelação. Por que logo a mim veio procurar?
- Você é a única em quem confio!
Decidi, então, levá-lo em sua casa. No dia seguinte, quando o procurei, não o encontrei.
- O André partiu.
- Pra onde?
- Não sei, minha querida. Só sei que perdi meu filho. Ele apenas deixou um bilhete.
Mostrou-me o bilhete.
- Entenda-me se for capaz. -li - Mas o que isso quer dizer?
- Queria eu saber onde meu filho está.
Olhei para ela e percebi seu olhar perdido ao horizonte. Buscando informações para aquele enigma. O que teria acontecido com André? Seu filho, meu amigo. "Entenda-me se for capaz", que sentido havia por trás daquele bilhete?
Foi pensando nisso que decidi ir à casa de Luana, uma antiga namorada dele.
- O André sumiu?!?
- Sim. Deixou um bilhete com um enigma.
- Que enigma?
- Entenda-me se for capaz.
Ela não conseguiu esconder sua expressão de assustada.
- Que estranho! Ele sempre me falava essa expressão. Não conseguia saber o que tinha por trás dela. Até que um dia...
Ela de repente, parou de falar. Pedi-lhe que continuasse, mas ela recusou. Voltei para casa mais perdida do que antes. O que Luana sabia? O que significava aquele enigma? Que destino havia tomado meu amigo? Sentei à beira da cama e pensei. Pensei bastante até que decidi escrever no computador tudo que André me revelou naquela noite. Talvez fosse apenas uma falta de compreensão...
Capítulo II: História de André
... André estava namorando Luana há três meses. Era um namoro estável. Ele nunca planejava com ela casar. Gostava de estar ao seu lado. Tinham uma prazerosa sintonia. Ele tinha dezessete anos. Depois que foi reprovado no vestibular, decidiu fazer um cursinho pré-vestibular. Era um jovem alegre, determinado e criativo. Filho de pais separados. Vivia em plena harmonia com sua mãe e a irmã. Sua irmã mais velha era casada. Tinha dois filhos e o adorava demais. Seus pais estavam separados desde quando ele tinha dez anos.
- Como foi a aula hoje, meu filho?
- Foi boa, mãe. Os professores demonstraram ser bem competentes e a turma me pareceu bem interessada em aprender.
Os dias se passaram. André estava sempre entusiasmado com o cursinho. Passou-se um mês e André já havia feito uma grande amizade.
- Que ótimo! Posso saber com quem?
- Sim. É o Gustavo. Bem inteligente ele, mãe. Pretende cursar Química.
- Engraçado! Você odeia as fórmulas e tornou-se amigo de um alucinado por elas. Já tô vendo vocês discutindo.
André riu.
- Ah, mamãe! Amigos, amigos, estudos à parte!
E partiu para o quarto. Ligou o computador e entrou no bate-papo por algumas horas. Estava navegando na internet, quando Luana chegou e o abraçou.
- Navegando?
- É você, amor! Que surpresa!
E a beijou.
- E então? Como tá indo as aulas no cursinho?
- Bem interessante. Vem cá, quero te pedir algo.
Puxou-a até a cama.
- Passei o dia estudando. Tô necessitando de uns carinhos.
Luana o abraçou e deu-lhe alguns beijos. Ele rendia-se aos aconchegos dela. Aqueles pensamentos voltaram a perturbá-lo. Já fazia um mês que ele conhecia Gustavo. Ambos tinham uma sintonia agradabilíssima, davam-se muito bem. Devido isso, ele começou mudar sua maneira de ser. Estava confuso com sua filosofia de vida. Tentou pensar em outra coisa, mas não conseguia.
- O que foi? Não tá gostando?
André continuava com o olhar fixo ao horizonte.
- Oii! Tudo bem?
- Ah, sim! Foram apenas umas recordações bestas.
- Posso saber que recordações são essas?
- É coisa minha!
- Você é muito misterioso! Não divide nada do seu passado comigo.
- Dividir o quê? Minha vida é um livro aberto.
Luana caminhou até a janela.
- Não é o que parece! Você é misterioso, sim.
Chegando por trás dela, a abraçou e declarou em seus ouvidos, sussurrando:
- Entenda-me se for capaz.
Ela virou-se e fixou seu olhar no dele por alguns segundos. Queria compreender aquele cara. Sempre tão misterioso.
- O que foi? - Indagou ele.
- Nada. Só tô tentando te entender.
Ele a abraçou fortemente.