Pixão Proibida

rio,22/02/14

QUINTA PARTE

Pressionava-o a dizer de onde tirava o dinheiro que custeava seus hábitos e roupas tão caras já que viviam de forma simples fazendo tudo no papel e no lápis. Quando estava em Taubaté o pastor da Primeira Igreja Batista os chamou para uma conversa definitiva, quando foram surpreendidos por um tiro nos arredores da Congregação que, pois em risco, a vida dos fiéis. E pediu o afastamento deles, até que averiguassem onde o filho se metia.

Eduardo se via transtornado cada vez que ficava sem o uso da substancia química. Saía escondido e se enfiava nas boates oferecendo o corpo para conseguir ainda mais. E naquele dia passava de duas da manhã, quando chegou a casa tropeçando e gritando acordando a mãe:

_Aaaaaaaaa! Droga de vida! _ Atirava tudo longe: _ Porcaria! Aaaaaaaaaa! _ Falta de Sergio e de tudo que lhe dava. O que os pais não podiam custear: _ Eu quero uma moto!

_ Filho, de onde você veio, para voltar assim?

_ O que interessa hein, se não me dá nada que eu peço.

_ De onde vou tirar dinheiro para comprar uma moto filho, com o que ganhamos. _ Pegou-o com cuidado e o ajudou a subir as escadas, caindo e ela o erguendo:

_ Mãe, todos os meus amigos têm uma moto. E não querem mais andar comigo porque sou um coitado.

_ Coisa feia, encher a cara por causa disso filho. Não está vendo que essa gente não é seus amigos. Se deixarem você nesse estado. _ Preferia pensar que era o álcool o responsável.

_ Quem são meus amigos? A gente chata e feia da igreja prefere os meus.

_ Eduardo, eu não admito que você fale desse jeito filho.

_ Me deixa mãe eu não to a fim de conversar. _ Se desvencilhou subindo de qualquer jeito se amparando no corrimão. Bateu a porta e o ouvia resmungando coisas desconexas: _Cadê você, Sergio? Porque não vem me ver? Eu to muito a fim.

Dona Semíramis subiu na ponta do pé prevendo que o filho iria vomitar tudo. Abriu a porta devagar e o viu se contorcendo de dor. O pegou ajeitando-o em seu colo e reparou que estava machucado:

_ Por onde andou meu filho? – Conteve o soluço se mostrando forte. Nunca desarmava em prantos e se mantinha capaz de superar tudo em nome do amor e fé em Cristo. Não sabia o que havia levado seu filho a se perder daquele jeito. Januário talvez, com seu modo bruto de agir, batendo nele por tudo.

Sentia muito não poder dar ao filho o que ele gostava de exibir diante dos colegas de sua faixa etária. Tentava exasperadamente o guiá-lo no caminho certo, e, no entanto, o inimigo havia chegado de mansinho e fez à obra de um jeito qual não pode ver. Sergio era um bom moço e via o quanto tinha paciência com Eduardo e como conversavam o alertando contra tais perigos, quando teve que correr de visconde de Mauá, depois da morte da família, até a poeira assentar.

Vendo que o filho vomitava tudo o chamando com sofreguidão, procurou na agenda o telefone e o encontrou. Havia lhe dado um banho com muito sacrifício e o colocou para dormir depois que fez os curativos e lhe deu um chá de camomila. Estava tão esgotado que apagou logo. Ligou para o número de Sergio após pensar dez vezes.

Sergio atendeu o chamado que insistia num som de música de louvor. Lembrou quem era e atendeu:

_ Alô!

_ Por um acaso este telefone ainda pertence ao senhor Sergio Almeida Albuquerque?

_ Sim, é ele. Quem deseja?

_ È que eu achei o seu cartão das obras sociais com jovens dependentes químicos e pensei que poderia me ajudar com meu filho. Eu... Eu confesso que não queria acreditar que fosse isso que o tivesse afetando, mas, agora vejo que não tem remédio. É droga o que ele tem. _ Prendia o choro fortemente: _ Devo admitir e parar de tapar o sol com a peneira.

_ Quem está falando?

_ Dona Semíramis Freitas de Andrade. Lembra de min.? Mãe de Eduardo que tantas vezes, você o tirou de enrascadas.

_ Como ia esquecer Dona Semíramis. Como vai o Eduardo?

_ De mal o pior, filho. Chegou a casa naquele estado lastimável e eu não sei o que faço. O tempo que estivemos fora chamava seu nome, o por pouco não foi parar numa clínica de recuperação, qual meu esposo queria interná-lo.

_ E como à senhora se safou de tudo isso sozinha?

_ Contando até agora com Jesus que nunca me faltou. _ pausa pensativa: _ Acontece, que a igreja lá onde estávamos nos afastou temporariamente, para que pudéssemos resolver esse impasse. E tem horas que me sinto tão frágil, diante de tudo. Até me instalar de novo e procurar outra, que possa freqüentar e começar tudo de novo. Mas, com Eduardo assim.

Sergio se comprometeu em ir vê-los mesmo àquela hora da noite. Em poucos minutos havia chegado à rua jardim Amália onde estavam morando. Dona Semíramis agradeceu sua compreensão lhe servindo um café:

_ Onde ele está agora dona Semíramis?

_ Dormindo. _ Moveu a cabeça tomada de angústia: _ Imagina você que ele disse que estava numa casa de jogos rodando a roleta da sorte. Faltou dinheiro e deram nele.

_ Santo Deus! Deu para roubar.

_ Sabe-se lá que outras coisas mais. Não posso deixar o Januário saber disso, entende. È capaz de colocá-lo de casa pra fora, porque já está cheio de suas peripécias.

_ Me desculpe, Dona Semíramis. Mas, seu Januário não pode ficar tratando o Eduardo como criança e o enchendo de pancada, porque isso só vai piorar ainda mais a situação.

_ Dessa vez ele veio apanhado da rua. Mas, se tivesse acordado e visto, nossa!

_ Posso vê-lo?

_ Vai, filho. Ele dorme e acorda fala coisas incompreensivas. Se debater muito e não quero que grite para não acordar o sono pesado do pai.

Sergio subiu e abriu a porta o encostando de novo. Eduardo estava resmungando xingamentos contra quem havia lhe batido:

_ Eduardo. _ Tocou nele devagar.

_ E... E... E, já cheguei ao inferno é.

Sergio o fitou com vontade de rir:

_ Nunca pensei que o diabo fosse tão bonito assim.

_ Deixa de palhaçada, porque se você for pro inferno com todas as suas atitudes erradas, não irá encontrar um diabo bonitinho.

_ Ih, você veio até aqui para me pregar sermão é. Pode ir.

_ Não vou coisa nenhuma, vim te ajudar a sair dessa crise que se enfiou.

_ Me ajudaria melhor se me desse um beijo.

_ Para sacanagem não tem crise certa, folgadinho.

_ Quem foi que te trouxe aqui, hein?

_ Sua mãe, que se preocupa com você.

Puxou ele para se deitar do seu lado:

_ Ah vem fica logo comigo, e esquece essa velha chorona.

_Você devia seguir os conselhos dela e se converter. Não vê que assim vai acabar morrendo de overdose?

_ Hãããããããããh que chat ura!_ Um som abafado de enjoou:_ Você já andou comigo antes, qual é?

_ Isso foi antes, agora é outra história. Eu cresci e acho que você devia fazer o mesmo.

_ Pelo menos você me dava tudo que eu queria. Esqueceu?

_ Para Eduardo, vê se você cresce, por Deus. Para de infernizar a vida de todo mundo. Viu o que você aprontou com aquela família.

_Não aprontei nada, morreram porque quiseram.

No fundo Sergio ainda sentia encanto por ele.

SEXTA PARTE

Aos vinte e quatro anos e ele apenas treze, fizeram amor debaixo de um arvoredo nos arredores da Trilha do Alcantilado. Desde então, mesmo metido no ócio e na vadiagem se metendo com um homem casado e destruindo uma família, o que causou sua saída da cidade; Via-se agora, recordando os momentos prazerosos que sua voz manhosa citava, o cortejando, ao delírio do prazer, desnorteado que tinham.

Quando levou Eduardo para casa numa noite de tempestade, e Dona Semíramis o esperava ansioso, na varanda da casa, ficou agradecida com seus cuidados, o colocando no patamar de homem de bem Sergio sentiu-se a pior pessoa do mundo, por não ter coragem de dizer-lhe que havia transado, com seu filho.

Eram Evangélicos e, se contasse certamente, o acusaria de pedofilia mesmo que Eduardo tivesse consentido; uma vez sendo menor de idade. Eduardo estava mais tentador do que nunca. Olhos miúdos, lábios finos e nariz pontudo. Os cabelos tão lisinhos quanto sedosos, que a cada movimento mais bruscos deslizavam no ar, ao estilo corte Chanel. A cor dos olhos castanhos. E seu assanhamento atirando-se sobre ele o deixava tão louco de excitação que o abraçou forte, como pediu, pondo-se a deixar uma lágrima rolar derretendo, toda sede de atirá-lo na cama.

Não tinha um pingo de juízo. “E se Dona Semíramis ou mesmo seu pai os surpreendessem? Como ia fazer para dar explicação? Nem pulando a janela posto que morassem numa casa de três andares.”

Mesmo sabendo que era noivo investia sobre ele até alcançar seu objetivo o levar para cama. Era astuto, manhoso e interesseiro. Não se dava por inteiro a uma pessoa só, e isso o irritava.

Na manhã seguinte.

O telefone tocava sem parar e já podia imaginar quem era pelo toque escolhido:

_ Alô!

_ Onde você está Sergio? _ Patrícia se fazia de desentendida: _ Você não vai me devolver o anel para que a gente vá à igreja marcar a data do casamento?

_ Patrícia, que eu me lembre você terminou comigo.

_Meu amor, a gente teve uma briga como tantas por aí, não faça caso para isso, e vem logo, estarei te esperando.

_ Não Patrícia, esquece de min. De uma vez. Será melhor para nós dois.

_ Sergio, você não vai se aproveitar de um momento de fraqueza meu para escapar do compromisso que temos desde a infância.

_ Casamento, se desfaz até na porta da igreja.

Eduardo acordou escutando a conversa posto que ela se alterasse ao telefone celular:

_ Termina logo, com isso e pronto.

Tapou o telefone e disse:

_ Não se mete nos meus assuntos. E fica de bico calado, por favor.

_ Você não vai ficar falando com essa coisa no meu quarto.

_ Psiu! _ Sinal de silêncio: _ Quieto_ Voltou-se a ela que perguntava desconfiada:

“Com quem Sergio estava naquela hora da manhã. Será que era a tal de Luísa Carla? Se fosse ia aprontar o maior escândalo da paróquia na vida dele” _ Pensava.

Sergio desceu após mandar Eduardo tomar um banho. Ele queria que Sergio lhe desse o banho, mas Sergio se negou dizendo que ele era bem grandinho. Dona Semíramis enfiava os doces na compota e o de maracujá, cheirava delicioso:

_ A senhora faz doces para vender Dona Semíramis?

_ Você não lembra que me ajudou a vender na estrada. – Sorriu afetuosa. A aparência madura se tornou mais branda: _E vendeu tudo.

_Ah sim, Dona Semíramis, me lembrei.

Pegou o tacho e o colocou sobre a mesa de madeira envernizada. Tinha traços bonitos apesar da idade avançada com o qual certamente, teve Eduardo. Por isso era tão mole com ele.

_ E o Eduardo. Como o controlou?Não sei como consegue. _ficava encantada:

Foi criada numa família fervorosa que nunca deixou que tomasse conhecimento do mundo cão que se vivia. Ouvia falar uma coisa ou outra, nos jornais, mas, a família sempre apresentou um exemplo de conduta que ensinou serem modestos e econômicos. Não conseguiu passar o mesmo para o filho por causa da intransigência do pai:

Seu Januário era muito severo, de pouca fala e não tinha tempo a perder com conversas fiadas. Trabalhava com a carpintaria e desenvolvia seu trabalho com a mesma ligeireza e perfeição, qual o serviço lhe procurava. Seus trocados eram bem guardados e o que podia pagava o dízimo da igreja, mesmo afastado por conta das bobagens do filho e o restante, empregava na despesa da casa e nas reuniões que faziam com os irmãos que os visitavam por amizade sincera.

Enquanto isso.

Lorena visitava a casa de Mãe Quita em busca de mais trabalhos que a ajudasse terem um filho. Mãe Quita lhe disse no jogo que o próximo passo se daria caso ela recolhesse para o orixá:

_ Como vou fazer isso Mãe Quita?

_ Você teve uma juventude meio desembestada, não foi filha? _ Perguntou movendo os búzios:

_ Sim, eu vivi no meio de umas amizades que me induziram ao caminho da droga. Mas, foi por pouco tempo. Logo conheci o Leonel e ele me ajudou a deixar essas coisas e nunca mais usei.

_ Então, filha. Se você não consegue ter filhos com todo esforço espiritual que fizemos...

_ Sim, mas, como vou fazer isso se o Leonel nem sabe que venho aqui. Deus me livre se souber. Leonel é ateu sabe mãe Quita.

A conversa desenrolou com ela chorando de medo sem saber que atitude tomar. Sua mãe não se importaria, mas o irmão Evilásio iria fazer um inferno. E Evilásio viu quando ela saiu do terreiro nas proximidades de Poço das Antas, e pior havia levado a filha dele e os colegas em seu carro escutando o som alto.

Luísa Carla brigava com Caio porque ele mandou a foto para Patrícia resultando em todos os problemas que estavam tendo. Daniela e Gabriela se meteram na discussão na porta do terreiro interrompida pelo seu pai que a pegou pelo braço enfrentando a irmã que vinha saindo:

Era a última coisa que faltava. Discutiu pouco sendo apartados por Mãe Quita que o deteve o colocando no seu devido lugar. Mandou que seus filhos entrassem e bateu o portão.

Lorena e Evilásio chegaram á pousada discutindo sem parar:

_ Procurando a macumba para resolver uma coisa que bastava você se portar como uma mulher.

_ Você não pode falar nesse tom comigo.

_ Que você conduza sua vida assim, é uma coisa. Agora, levar minha filha para esse antro de...

_Casa Espiritual, Evilásio. Nada demais no que ela faz. E vem ajudando os jovens a saírem das drogas, lhe dando conselhos e levando palavra de amor. Sabe o que é isso, amor?

_ Amor é o que lhe falta para dar a seu marido e encher a barriga de filho. _ Ofendeu-a gravemente, levando-a a perder a força na escada: _ Vou contar tudo para o Leonel que você quer fazer filho à base de mandinga.

_ Volta aqui, Evilásio!

Dona Gertrudes se aproximou testemunhando o desespero dela se agachando e afastando as longas madeixas para trás aos prantos.

- Eu só quero ser mãe Gertrudes. _ Choro convulsivo: - o que há demais nisso.

Adota querida e tudo isso acaba. _ Aconselhou acariciando-a

Dinah Costa
Enviado por Dinah Costa em 22/02/2014
Código do texto: T4701529
Classificação de conteúdo: seguro