Nos domínios da Morte-em-Vida: Viagem por Kishinev (Cap. IV)
Por ironia, ou talvez por um senso de mansidão que raramente pode ser encontrado nos corações das pessoas deste século, o parque mais belo de Kishinev é o Parque Pushkin. Possui mais de 17 hectares de extensão, com várias árvores, um chafariz e bem cuidados jardins dispostos de maneira agradabilíssima.
Nos perímetros do parque situa-se a Alameda dos Clássicos: uma seção dedicada às mais importantes figuras literárias do país. Vinte e oito bustos (um deles de Pushkin!) celebram as glórias do passado e contemplam o presente impotentemente – oferecendo alento e ao mesmo tempo fazendo com que os passantes interroguem-se: “O que será do futuro?”.
Na falta de um futuro tangível, há quem se apegue pelas conquistas do passado. Contrastando com a fealdade das construções arquitetônicas brutalistas, os bustos dos grandes em meio aos deleites da Natureza formavam uma encantadora antítese, e o grande monumento a Estêvão III logo na entrada do parque preencheu-me com um temor reverencial, tão prístino se erguia junto aos hediondos blocos de concreto que o cercavam. Talvez aquela terra estaria fadada a ser melancólica e gris por toda a eternidade, mas tinha os momentos áureos de seu passado remoto para acalentá-la. “O sangue do passado e da esperança” nutria Kishinev, que sabia respeitar não só seus ancestrais como também os encantos da Natureza com suas flores e plantas.
O quão mais belo o mundo seria se, em vez de vingarmos de maneira violenta as injúrias e críticas que nos foram feitas por nossos detratores, lhes dedicássemos parques! Nem mesmo Jesus Cristo poderia exemplificar melhor quando proclamou que, ao sermos esbofeteados, devemos oferecer a outra face.
[Continua no Cap. V]