CAPÍTULO 13 - ALUCINADAMENTE ALICE

13.

(ATENÇÃO: LEIA OS CAPÍTULOS ANTERIORES PARA ENTENDER A HISTÓRIA!)

Com os olhos vermelhos e inchados, percorri o estreito corredor piscando várias vezes na tentativa de afugentar os resquícios do sonho insosso em que estive mergulhada.

A cozinha era o espaço mais amplo e agradável da casa. Uma mesa grande de madeira maciça ocupava o seu centro, onde Simone, Camila e D. Constância estavam sentadas à minha espera.

Timidamente cumprimentei as moças e pedi desculpas por não me apresentar no primeiro encontro com a melhor das caras.

Camila era alta, magra, pálida e me pareceu bastante introspectiva. Falou pouco durante o jantar, expressando-se apenas através de frases curtas com sua voz rouca e sumida. Mal pude ver seu rosto, porque manteve a cabeça sempre baixa, limitando-se a me lançar olhares furtivos com suas pálpebras semicerradas.

Simone salvou-me do embaraço de não saber o que fazer nem dizer. Foi ela quem conduziu alegremente a conversa durante toda a refeição. Dona de uma curiosidade intensa e de olhos espertos fez inúmeras perguntas sobre minha família e minha cidade de origem. Mal terminava de contar uma coisa e lá estava ela me pedindo que falasse sobre outra. Sem me dar tempo de respirar nem mastigar, a comida em meu prato chegou até a esfriar.

Sentada na cabeceira, D. Constância prestava atenção na conversa sem dela participar, enquanto tamborilava a ponta dos dedos na mesa.

- Ora, Simone, sossegue o facho! Deixe a nova hóspede comer em paz. Terão muito tempo para conversar. Aliás, vou deixar que as duas arrumem a cozinha depois do jantar.

Cumpri a tarefa sem sentir. Eu e Simone engatamos uma conversa cheia de risos, divagações e bobagens que, quando dei por mim, tudo estava limpo e organizado.

As malas da viagem ainda não haviam sido desfeitas. Minha nova colega ofereceu sua ajuda que, de pronto, aceitei, porque queria ficar mais tempo em sua companhia e desfrutar do seu sorriso dilatado, capaz de afastar o medo da cidade nova e as saudades de casa.

Ocupei apenas metade do armário porque minha colega de quarto chegaria no dia seguinte e faria uso do espaço restante. Foi preciso mágica e boa vontade para acomodar as roupas.

Sentada em minha cama, Simone viu as fotografias de minha família, de Paulo e de Isabella que eu trouxera dentro de um livro para não amassar. A cada retrato analisado, um bombardeio de perguntas era desferido. Nunca, em tão pouco tempo, alguém ficou sabendo tanto da minha vida. Como não sucumbir ao seu jeito extrovertido? Seu rosto tinha uma luz e uma expressão honesta que derretia minhas defesas.

Por ser tarde, Simone despediu-se de mim desejando uma boa noite de sono e foi para o seu quarto antes que D. Constância viesse reclamar das luzes acesas e do som das nossas vozes.

Resolvi tomar um banho rápido. Demorei para conseguir controlar a temperatura da água que escorria para fora do box, protegido apenas por uma cortina de plástico de um bege encardido. Os ladrilhos acinzentados pareciam mudar de cor ao ficarem embaçados pelo vapor.

Fechei as torneiras, envolvi-me na toalha e com um rodo retirei o excesso de água do piso.

Respirei fundo ao ver minha imagem refletida no pequeno espelho acima da pia branca. Eu agora estava longe de casa e tinha uma nova vida pela frente.

Lady Blue Eyes
Enviado por Lady Blue Eyes em 19/09/2013
Reeditado em 22/09/2015
Código do texto: T4489321
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