CAPÍTULO 11 - ALUCINADAMENTE ALICE

11.

(ATENÇÃO: LEIA OS CAPÍTULOS ANTERIORES PARA ENTENDER A HISTÓRIA!)

Não foi nada fácil abandonar a segurança e o aconchego do meu lar, me despedir da minha família e, principalmente, me afastar de Paulo e de minha melhor amiga.

- Promete que vai telefonar, mandar cartas e vir me visitar sempre que possível? – perguntou Isabella tentando segurar o choro.

- Sim. E você? Jura que não vai se esquecer de mim? – minha voz era de súplica.

Ficamos abraçadas até Cristiano vir nos interromper. Eu continuava a não gostar dele.

- Então as mosqueteiras vão mesmo se separar? – sua voz tinha um tom irônico.

Acho que Cristiano também não morria de amores por mim. Parecia ter ciúmes de tudo na vida de Isabella que não estivesse relacionado exclusivamente a ele.

- Por favor, cuide de minha amiga com carinho. Faça-a feliz! – mirei seus olhos com firmeza.

- Acredita que seja preciso pedir? – respondeu incomodado com o meu olhar enquanto ajeitava a franja lisa desobediente.

Paulo levou-me em seu carro até a rodoviária. Pedi a meus pais para não irem conosco. Despedi deles em casa porque achei que assim o desconforto seria menor.

Ainda deu tempo para que minha mãe repetisse as recomendações que fazia desde os meus cinco anos de idade e acrescentasse outras novas relativas ao momento que eu estava vivendo.

Parecia estar decepcionada comigo. Acho que mamãe esperava que eu crescesse e fosse exatamente como ela. Eu só queria que me beijasse e dissesse que me amava. Gostaria que sentisse orgulho da filha e me desejasse boa sorte. Esperei por isso a minha vida toda, tentando encobrir e negar a menininha carente dentro de mim que tanto necessitava de carinho, atenção e proteção. Foi assim que aprendi a sofrer em silêncio. Hoje percebo que esse vazio impossível de ser extirpado me causou uma fome estranha de mundo. Eu nunca estava satisfeita com nada, não importava o que fizesse.

Meu pai andava muito preocupado desde o falecimento do seu patrão. Com a morte do Sr. Wilson, David, seu filho caçula, assumira os negócios do pai sem ter experiência alguma. Até então, tinha levado a vida viajando e namorando.

- Filha, se precisar de alguma coisa, por favor, entre em contato. Vou fazer de tudo para tentar ajudá-la – havia medo na voz de papai.

- Vai dar tudo certo. Não se preocupe – respondi, no fundo, sem convicção, apenas querendo acalmá-lo.

As malas foram colocadas no bagageiro do ônibus e chegou a hora de dizer adeus a Paulo que, delicadamente, segurou o meu queixo. Ao fitar seus olhos azuis estonteantes, minhas pernas bambearam e eu quase tive vontade de desistir da viagem e da faculdade.

- Se mudar de ideia, me procure. Posso esperá-la – a seriedade em sua voz me surpreendeu.

Não consegui dizer sequer uma palavra. Abracei-o e beijei-o várias veze até o motorista avisar que ia partir.

Lembro-me do número da poltrona até hoje: treze. Dei graças a Deus por não haver passageiro ao meu lado. Com a cabeça encostada na janela, chorei durante quase todo o percurso. Apesar do medo e da saudade, havia em mim a esperança de estar fazendo a coisa certa. No fundo, sabia que o caminho era sem volta. Sentia que estava me despedindo de alguma coisa para sempre. Quem mata a sua sede na fonte da liberdade, não se acostuma mais a beber em outras águas. Ao trilhar o novo caminho, desejava encontrar um sentido para a minha vida. Queria descobrir por conta própria o que devia e o que não devia ser feito. Meu sonho era me encontrar comigo mesma e, talvez para isso acontecer, fosse preciso me perder primeiro.

Lady Blue Eyes
Enviado por Lady Blue Eyes em 05/09/2013
Reeditado em 22/09/2015
Código do texto: T4467809
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