Viagem por São Paulo: Crônica de neves de antanho (Cap. VI)
Tendo mencionado tantas vezes minha noveleta, dedico a ela seu próprio, e breve, capítulo – um memorial a um dentre vários sonhos meus que vieram a fenecer – para o júbilo do leitor inquisitivo.
Valendo-se de sua vasta extensão para humilhar-me ainda mais, por toda a cidade não houve um editor disposto a lançar qualquer escrito meu; minha maleta e eu andávamos a torto e a direito, com os “nãos” destes fâmulos e intermediários do Deus-Dinheiro, responsáveis por estabelecer a conexão entre ele e a Poesia, reverberando cruel e incessantemente em meus ouvidos. Depois de várias tentativas infrutíferas, julguei-as um presságio de que deveria sepultar minha pobre maleta que armazenava as quimeras de minha mocidade; e levaria anos até que a revisitasse, guiado por um inoportuno capricho da Nostalgia.
Publiquei a noveleta com demasiado atraso, quando já dava-lhe pouquíssimo crédito e o entusiasmo da juventude arrefecera para dar lugar ao comedimento da maturidade. Proporcionou-me algum dinheiro (que viria a empregar em meu Grand Tour) e relativa fama, mas não foram poucas as vezes que arrependi-me de tê-la redigido em primeiro lugar. Se não fosse aquela maldita garota do Liceu…!
Num revés quase que paródico, não pude cumprir a promessa que fizera a T…, pois veio a falecer algum tempo depois e não pude mandar-lhe um exemplar. Seria apenas mais uma das várias peças que minha aziaga estrela viria a pregar-me, arrasando-me as ilusões num tragicômico e quase que dantesco contrappasso.
[Continua no Cap. VII]