CAP. 6 - PREPARATIVOS 2

(Continuação de Preparativos 1)

Para poder viajar, seu Louro tirou do velho baú as roupas que havia trazido de Portugal, a maioria de lã. Mandou colocar no sol para tirar o bodum de canto velho.

- Seu Zé Maria trouxe essas roupas para o senhor ajustá-las. Sabes que vou visitar a terrinha?

- É. Todo mundo sabe.

Com a fita métrica em punho, o alfaiate ia comparando as medidas das roupas com as do caderno.

- Não dá para aproveitar nada. O tanto de pano que tem para dentro não dá para chegar nas suas medidas atuais.

- Ai Jesus!

- Olhe aqui. A cintura dessa calça é 65 cm a sua cintura hoje é 98 cm só fazendo milagre e eu sou al-fa-ia-te, não sou san-to. Não aprendi a fazer milagre.

- E o fato? Será que ainda cabe?

- Se o senhor vestir esse paletó aí vai morrer sufocado de tanto aperto. Vamos fazer assim. Eu desmancho o terno, faço um blazer e o senhor compra na sulanca calça Jeans e camisas de gola role. O preço é menor e fica muito elegante. É capaz do senhor arranjar uma substituta para dona Assunção.

- Deus te ouça. Que os anjos te digam amém. (risos)

Seu Deodato não perdeu a oportunidade de vir para o Recife com seu Louro. A passagem fora comprada em Caruaru, mas o embarque teria que ser no Recife. O embarque que estava marcado para 21h30 só aconteceu 0h30 por causa do mal tempo em Salvador, onde se iniciava o vôo. Seu Louro estaria de volta três dias depois. Entre as modificações do sítio estava o jardim que a tia Maria mandou fazer com muitos gerânios, margaridas, begônias e rosas, muitas rosas de todas as cores. Mandou dona Sebastiana matar um porco grandão com mais de oitenta quilos e fazer embutidos com as carnes. Os coxões traseiros foram defumados. Mandou matar e torrar vinte e cinco galinhas, dois bodes para fazer carne seca e as buchadas depois de temperadas foram levadas para a casa dela para serem guardadas no freezer até a véspera da festa. A decoração da igreja foi encomendada à beata que cuidava dos registros da paróquia. Quem menos dava opinião em tudo era Celeste. Quando alguém lembrava de perguntar sua opinião ela se limitava a balançar a cabeça concordando. Pelo interesse e disposição para resolver as coisas parecia que os noivos eram os filhos de seu Deodato e de Tia Maria. O bolo de noiva com três andares foi encomendado à dona Beatriz, mulher do farmacêutico e mãe de Celinha (a menina do banho de chuva mais Neguinho, lá em cima na roda gigante. Depois desse dia eles começaram a namorar.) dona Santa (a dona da loja que o juiz mandou tirar o biquíni do manequim) fez o vestido da noiva e das damas Celinha e Letícia. Tudo branco, muita renda, muito bordado. Quando Matias foi experimentar o terno, Letícia ficou olhando pela porta entreaberta, admirada como ele tinha ficado bonito. Como ele era lindo com aquele cabelo grande cor de mel, queixo quadrado onde se insinuavam uns pelos dourados e brilhantes. Dentadura perfeita demonstrando toda alegria com o casamento do irmão querido.

- O senhor sabe seu Zé, que Batista quer que eu entre com ele na igreja?

- Ta certo. Só são vocês dois. Seus pais, Deus já chamou.

- Mas é que eu tenho vergonha. O pessoal todo me olhando...

- Quando eu chegar no altar fico com você Matias. (disse Letícia entrando na oficina e inundando o ambiente com o cheiro de fêmea nova.) Pai eu quero agulha e linha pra pregar botão.

Matias ficou vermelho de vergonha e pensou como é que Letícia tem coragem para dizer isso na frente do pai? Será que ela sabia que ele era doido por ela? Se ela ficasse só junto no altar tudo bem, mas se ela desse o braço ou pegasse na mão... sei não... nem sei o que faço com ela.

(Continua em O CASAMENTO)

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Este texto foi produzido em linguagem coloquial, sem o cuidado com a forma culta da língua portuguesa. Procurei reproduzir da forma mais fiel possível, a maneira de falar do povo pernambucano, nem sempre erudita, mas sem dúvida melodiosa.