Natal infeliz, Natais felizes...
imagem da web - A família, quadro de 1925 de Tarsila do Amaral
" ...Minha vida...
Quebrando pedras
e plantando flores."
Cora Coralina
Nossas comemorações se iniciavam no primeiro dia do mês com o aniversário de um dos irmãos. Depois, o de nossa irmã mais velha e de nossa mãe. Em seguida, os festejos do natal e do fim do ano. Era um mês de festas. Naquele ano não foi diferente, mas tudo mudou de repente e nos vimos mergulhados num turbilhão de aflição e dor sem precedentes.
Conseguem imaginar infelicidade maior que sepultar alguém que amamos? Fazem uma idéia do que é “viver” isso no dia do Natal? Este foi e sempre será inesquecível. Lembrança indelével da dor da perda, do nosso sofrimento externado nas crises nervosas, nos vômitos, nas lágrimas, no desespero da impotência.
Retornávamos sempre ao sítio, a casa de nossos pais, nas férias escolares, nas festas ou feriados. Éramos dez filhos, genros, noras, neta, primos e sempre alguns amigos. Sempre uma festa o reencontro com nossas origens, porém, nesse dia, voltar era morrer um pouco. Uma dor insuportável em nossos corações ao constatar que havia um carro fúnebre em nosso cortejo, sempre tão animado, tão feliz.
Nossos pais nos aguardavam, não com a alegria de sempre, não com o farto almoço e as novidades do lugar, mas para sepultar nosso menino-irmão, que me pedia sempre para cantar “o Menino da Mangueira” e contar histórias de grandes aventuras, que havia feito dezenove anos no inicio do mês e fora arrancado do nosso convívio pela fatalidade, pela tragédia. Nossos natais jamais seriam os mesmos.
Alguns anos depois retornei da maternidade ás vésperas de mais um natal e iniciamos um novo ciclo de comemorações. Bem antes disso e aos poucos, sobrinhos e sobrinhas que nasciam a cada ano, animavam nossos reencontros e, em especial, os natais, com a alegria, com a inocência benfazeja e curativa que é a presença de crianças em nossas vidas. Elas resgataram em nós a possibilidade de ressignificar o nosso reencontro no natal.
Nesse e nos próximos, assim espero, minha grande - enorme família se reunirá, mais uma vez, para rir, orar, brincar, cantar, brigar, fazer as pazes e chorar juntos em mais um Natal. A vida continua. E que bom que temos a oportunidade de celebrá-la com quem amamos! As dores, as perdas, as alegrias, os sucessos, os fracassos, os momentos felizes, são substratos da nossa construção de humanos nessa dimensão.
(...) A vida pode ser dura mas tem momentos de alegria
que há poesia batendo a porta do sonhador...”
O Filho do seu Menino - Rildo Hora
Saudades eternas de nosso menino-irmão Albênio.
Feliz Natal, sempre, meu irmão!
imagem da web - A família, quadro de 1925 de Tarsila do Amaral
" ...Minha vida...
Quebrando pedras
e plantando flores."
Cora Coralina
Nossas comemorações se iniciavam no primeiro dia do mês com o aniversário de um dos irmãos. Depois, o de nossa irmã mais velha e de nossa mãe. Em seguida, os festejos do natal e do fim do ano. Era um mês de festas. Naquele ano não foi diferente, mas tudo mudou de repente e nos vimos mergulhados num turbilhão de aflição e dor sem precedentes.
Conseguem imaginar infelicidade maior que sepultar alguém que amamos? Fazem uma idéia do que é “viver” isso no dia do Natal? Este foi e sempre será inesquecível. Lembrança indelével da dor da perda, do nosso sofrimento externado nas crises nervosas, nos vômitos, nas lágrimas, no desespero da impotência.
Retornávamos sempre ao sítio, a casa de nossos pais, nas férias escolares, nas festas ou feriados. Éramos dez filhos, genros, noras, neta, primos e sempre alguns amigos. Sempre uma festa o reencontro com nossas origens, porém, nesse dia, voltar era morrer um pouco. Uma dor insuportável em nossos corações ao constatar que havia um carro fúnebre em nosso cortejo, sempre tão animado, tão feliz.
Nossos pais nos aguardavam, não com a alegria de sempre, não com o farto almoço e as novidades do lugar, mas para sepultar nosso menino-irmão, que me pedia sempre para cantar “o Menino da Mangueira” e contar histórias de grandes aventuras, que havia feito dezenove anos no inicio do mês e fora arrancado do nosso convívio pela fatalidade, pela tragédia. Nossos natais jamais seriam os mesmos.
Alguns anos depois retornei da maternidade ás vésperas de mais um natal e iniciamos um novo ciclo de comemorações. Bem antes disso e aos poucos, sobrinhos e sobrinhas que nasciam a cada ano, animavam nossos reencontros e, em especial, os natais, com a alegria, com a inocência benfazeja e curativa que é a presença de crianças em nossas vidas. Elas resgataram em nós a possibilidade de ressignificar o nosso reencontro no natal.
Nesse e nos próximos, assim espero, minha grande - enorme família se reunirá, mais uma vez, para rir, orar, brincar, cantar, brigar, fazer as pazes e chorar juntos em mais um Natal. A vida continua. E que bom que temos a oportunidade de celebrá-la com quem amamos! As dores, as perdas, as alegrias, os sucessos, os fracassos, os momentos felizes, são substratos da nossa construção de humanos nessa dimensão.
(...) A vida pode ser dura mas tem momentos de alegria
que há poesia batendo a porta do sonhador...”
O Filho do seu Menino - Rildo Hora
Saudades eternas de nosso menino-irmão Albênio.
Feliz Natal, sempre, meu irmão!