Carta ao Papai Noel
Papai Noel!
É com muita esperança que lhe escrevo esta carta, sei que são tantos os pedidos, porém, haverá um tempinho para senhor ler a minha carta antes do natal. Meu nome é José Wilson, tenho oito anos de idade e moro na localidade conhecida como Paud’arco, no Segundo Distrito da cidade de Nova York, Estado do Maranhão.
Papai Noel, estou lhe escrevendo sem que ninguém saiba, e tenho fé que o senhor irá resolver o meu problema. Digo-lhe problema porque ninguém daqui sabe resolver estas coisas. Eu fui cadastrado há mais de dois anos na Bolsa Família e até hoje, a minha mãe não recebeu nada, apenas promessas, e esse dinheirinho me faz falta, enquanto que os meninos da cidade já vêm recebendo há vários anos.
Aqui em casa, sou o único que sei ler e escrever, sempre sou chamado na vizinhança para escrever e ler as cartas dos parentes que chegam. Também, e gosto de ler pedaços de jornais que vem embrulhado nas compras. Assim, eu fico sabendo de tudo. Este ano, eu não estou estudando por não ter condições de comprar os cadernos, e o meu colégio fechou por causa de uma ponte de madeira que caiu. Aqui, nós passamos muitas dificuldades, mais este não é o caso da carta. Trabalho para ajudar o meu pai, um pobre homem que não teve sorte na vida, e vive sempre lutando para nos sustentar, apesar, que aqui não tem trabalho, também não vamos morar na cidade por lá não ter dinheiro para pagarmos o aluguel, a luz e a água.
Papai Noel! O senhor nunca veio aqui no sertão. Venha! Desça desse trenó e venha andar no capoeirão. Se o senhor vier eu vou ficar muito feliz, aqui não tem luz elétrica, nós usamos lamparina. Mais posso lhe ofertar no dia de Natal um grande banquete com arroz de cuxá, uma galinha caipira e uma sobremesa com paçoca de castanha de caju. O meu pai me disse que vai me mandar para cidade quando eu alcançar os dezesseis anos. Ele vai lutar para me formar em doutor, eu quero ser advogado ou Juiz.
Se eu fosse advogado, eu denunciaria as pessoas que recebem o meu pequeníssimo dinheiro da Bolsa Família. E saiba que aqui são mais de trinta inscritos no programa do Governo e ninguém recebe nada, só promessa e acusam que o cadastro foi recusado.
Papai Noel, eu não quero lhe pedir presente, vontade eu tenho de ter um computador, mesmo que seja na versão do Windows 95 mais antiga. Acontece que não temos energia elétrica aqui e nem sinal de conexão, o que se torna impossível o meu sonho. Sabe Papai Noel, na cidade, eu gosto de ficar olhando os garotos jogarem vídeo game e navegarem na internet numa tal de Lan House. O senhor sabe? É que os guris tem idade de quatro a cinco anos e já sabem navegar na internet. Eu fico só olhando, o dono às vezes, me ordena para sair da porta, mesmo assim, eu corro para as outras Lan House que estão abertas.
Vou lhe contar uma coisa. Ontem, eu fui com a minha mãe à cidade, e numa rua do centro em frente de uma casa bonita, havia muitos livros jogados no tambor de lixo. Nós apanhamos todos os livros, eram novos, do primeiro e segundo grau. Adorei ler a geografia mundial, conheci os paises africanos, a bela e encantada cidade de Dubai, a moeda da Europa e tantas novidades, até a guerra do Iraque. Além disso, encontrei um livro como aprender a navegar na internet, e também achei uma revista com as melhores máquinas do mercado, já sei de tudo sobre computador, só que nunca acessei um computador para navegar na internet. Se eu fosse escolher um computador, eu queria um com 512 de memória, um processador de 500, tela plana, Pentium quatro completo. Eu com uma máquina dessas, eu viajaria até Marte.
Papai Noel! Estou lhe ocupando demais, vamos ao que interessa. Eu quero saber quem está recebendo o meu dinheiro da Bolsa Família há mais de dois anos. Não posso falar o nome das pessoas por não ter provas. Mais para o senhor é fácil descobrir porque o senhor é uma pessoa respeitada e querida no mundo inteiro. E o meu pedido, é um presente de Natal, eu preciso receber a minha Bolsa Família aqui no interior do Maranhão.
Sei que não é difícil para o senhor descobrir tudo isto, basta saber de onde estou escrevendo, assim, eu ficarei muito feliz e meus amigos também: Tonico, Roberval, Charles e outros que nunca receberam.
Vamos lá Papai Noel! Estou aguardando a resposta antes do Natal. Este dinheiro é meu e ninguém pode usufruir o que é meu por direito.
Ando muito triste. Aguardo sua resposta para me fazer feliz. Não mostre esta carta pra ninguém Papai Noel, eu não quero a minha família complicada, já basta eu que tanto sofro.
Um abraço Papai Noel, até lá eu te espero.
Nova York (MA), 14 de dezembro de 2007 – 22:26hs
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José Wilson
Papai Noel!
É com muita esperança que lhe escrevo esta carta, sei que são tantos os pedidos, porém, haverá um tempinho para senhor ler a minha carta antes do natal. Meu nome é José Wilson, tenho oito anos de idade e moro na localidade conhecida como Paud’arco, no Segundo Distrito da cidade de Nova York, Estado do Maranhão.
Papai Noel, estou lhe escrevendo sem que ninguém saiba, e tenho fé que o senhor irá resolver o meu problema. Digo-lhe problema porque ninguém daqui sabe resolver estas coisas. Eu fui cadastrado há mais de dois anos na Bolsa Família e até hoje, a minha mãe não recebeu nada, apenas promessas, e esse dinheirinho me faz falta, enquanto que os meninos da cidade já vêm recebendo há vários anos.
Aqui em casa, sou o único que sei ler e escrever, sempre sou chamado na vizinhança para escrever e ler as cartas dos parentes que chegam. Também, e gosto de ler pedaços de jornais que vem embrulhado nas compras. Assim, eu fico sabendo de tudo. Este ano, eu não estou estudando por não ter condições de comprar os cadernos, e o meu colégio fechou por causa de uma ponte de madeira que caiu. Aqui, nós passamos muitas dificuldades, mais este não é o caso da carta. Trabalho para ajudar o meu pai, um pobre homem que não teve sorte na vida, e vive sempre lutando para nos sustentar, apesar, que aqui não tem trabalho, também não vamos morar na cidade por lá não ter dinheiro para pagarmos o aluguel, a luz e a água.
Papai Noel! O senhor nunca veio aqui no sertão. Venha! Desça desse trenó e venha andar no capoeirão. Se o senhor vier eu vou ficar muito feliz, aqui não tem luz elétrica, nós usamos lamparina. Mais posso lhe ofertar no dia de Natal um grande banquete com arroz de cuxá, uma galinha caipira e uma sobremesa com paçoca de castanha de caju. O meu pai me disse que vai me mandar para cidade quando eu alcançar os dezesseis anos. Ele vai lutar para me formar em doutor, eu quero ser advogado ou Juiz.
Se eu fosse advogado, eu denunciaria as pessoas que recebem o meu pequeníssimo dinheiro da Bolsa Família. E saiba que aqui são mais de trinta inscritos no programa do Governo e ninguém recebe nada, só promessa e acusam que o cadastro foi recusado.
Papai Noel, eu não quero lhe pedir presente, vontade eu tenho de ter um computador, mesmo que seja na versão do Windows 95 mais antiga. Acontece que não temos energia elétrica aqui e nem sinal de conexão, o que se torna impossível o meu sonho. Sabe Papai Noel, na cidade, eu gosto de ficar olhando os garotos jogarem vídeo game e navegarem na internet numa tal de Lan House. O senhor sabe? É que os guris tem idade de quatro a cinco anos e já sabem navegar na internet. Eu fico só olhando, o dono às vezes, me ordena para sair da porta, mesmo assim, eu corro para as outras Lan House que estão abertas.
Vou lhe contar uma coisa. Ontem, eu fui com a minha mãe à cidade, e numa rua do centro em frente de uma casa bonita, havia muitos livros jogados no tambor de lixo. Nós apanhamos todos os livros, eram novos, do primeiro e segundo grau. Adorei ler a geografia mundial, conheci os paises africanos, a bela e encantada cidade de Dubai, a moeda da Europa e tantas novidades, até a guerra do Iraque. Além disso, encontrei um livro como aprender a navegar na internet, e também achei uma revista com as melhores máquinas do mercado, já sei de tudo sobre computador, só que nunca acessei um computador para navegar na internet. Se eu fosse escolher um computador, eu queria um com 512 de memória, um processador de 500, tela plana, Pentium quatro completo. Eu com uma máquina dessas, eu viajaria até Marte.
Papai Noel! Estou lhe ocupando demais, vamos ao que interessa. Eu quero saber quem está recebendo o meu dinheiro da Bolsa Família há mais de dois anos. Não posso falar o nome das pessoas por não ter provas. Mais para o senhor é fácil descobrir porque o senhor é uma pessoa respeitada e querida no mundo inteiro. E o meu pedido, é um presente de Natal, eu preciso receber a minha Bolsa Família aqui no interior do Maranhão.
Sei que não é difícil para o senhor descobrir tudo isto, basta saber de onde estou escrevendo, assim, eu ficarei muito feliz e meus amigos também: Tonico, Roberval, Charles e outros que nunca receberam.
Vamos lá Papai Noel! Estou aguardando a resposta antes do Natal. Este dinheiro é meu e ninguém pode usufruir o que é meu por direito.
Ando muito triste. Aguardo sua resposta para me fazer feliz. Não mostre esta carta pra ninguém Papai Noel, eu não quero a minha família complicada, já basta eu que tanto sofro.
Um abraço Papai Noel, até lá eu te espero.
Nova York (MA), 14 de dezembro de 2007 – 22:26hs
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José Wilson