Inexoravelmente

trazendo a lembrança de

Natais sem esperança

sem tréguas nem alegria



Na minha apartada cela

uma a uma cada mágoa

para dentro de mim sangra



Envolve-me pesada névoa

que me inibe como manta

teço ourelas de gracejo

porque por mister carrego

aos limites da minha alma

o esforço de sorrir ainda

por amor de outros que seja

Por esta nesga de vida

Roubada à fada madrasta



Mas não finjo quando rio

prefiro não constranger

em cada hora o meu ser

já que me atrevo a viver

como criança estouvada

que sorri despreocupada

mesmo sabendo que a infância

esteve de mim ausente.



Triste, o olhar não mente

o mal sabe e que sente

do longo penar silente

que me marcou para sempre



Chega compassada a hora

que o mundo comemora

com prendas e impostura



escarnecendo O que pregou

aos poderosos de então

que pensavam tal e qual

como os fartos que cá estão,

fazendo com ar melado

um Natal desirmanado



Cristo, de onde nos vir,

que amargura há-de sentir!



Não tenho Natal, não posso!

Prefiro o fundo do poço

onde sozinha me ouço

e onde triste me afogo

em busca de entendimento.







Poema de Natal de 2005