Esperar o que e como

A finalidade das quatro semanas do tempo do Advento é ajudar a intensificar em nós a expectativa da vinda do Senhor. Na espiritualidade cristã, desde o começo, Advento significa “a manifestação da vinda de Jesus no mundo. E antigamente, em algumas tradições litúrgicas, na vigília da festa do Natal, lia-se o evangelho Lucas 21, 25-28 . Até hoje, quem abrir o livro da Liturgia das Horas, lerá no ofício das 1ª Vésperas do Natal, na tarde do 24 de dezembro, a antífona tirada desse evangelho: “Ergam a cabeça, levantem do chão, já se aproxima a Libertação”. Na noite de Natal, se lia o evangelho da manifestação definitiva da vinda de Jesus como Senhor e meta da história.

Com o decorrer dos séculos, à medida que o tempo do Advento foi organizado em quatro semanas, a Igreja latina dedicou mais as duas primeiras semanas à expectativa da vinda do Senhor e nas duas últimas, principalmente, a partir do 17 de dezembro, se concentrou na preparação da memória do nascimento de Jesus. No entanto, essa memória do nascimento de Jesus em Belém é vivida para acentuar a confiança na manifestação de Jesus (parusia) na renovação final do mundo. Não devemos esquecer que a tradição dos presépios, imagens do Menino Jesus e as devoções ligadas à Noite Feliz, podem nos enternecer e, em parte, são legítimas. No entanto, só surgiram no século XIII com São Francisco de Assis. Antes, não havia. Era um Cristianismo mais fiel às suas origens. As antigas comunidades cristãs viviam fortemente essa expectativa. Cada celebração terminava com a invocação: Marana-tha, o Senhor vem...

Até hoje, essa forma de crer que podemos chamar de “escatológica ou apocalíptica” (ligada à expectativa do tempo final), é comum nas Igrejas e grupos de espiritualidade pentecostal.

Há alguns anos, fui a um culto na Igreja Presbiteriana em Bragança. Ali o pastor encerrou o trabalho da noite afirmando: Irmãos, até a próxima 4ª feira, se até lá, o Senhor não tiver chegado!

Nós, cristãos, ligados a Igrejas históricas e com uma reflexão teológica mais crítica não costumamos fazer esse tipo de leitura dos textos bíblicos que anunciam a próxima vinda do Senhor. Não lemos a Bíblia ao pé da letra, ao menos nesse tipo de passagens (em outras, lemos sim e deveríamos rever isso). Por isso, corremos o risco de não esperar mais a vinda do Senhor. Ou ao menos não manifestamos isso em nossa forma de viver a fé.

Todos nós temos expectativas que nos fazem vibrar. Vivemos esperando ou sonhando com coisas que desejamos e queremos ver acontecer. Mas, será que alguma vez nos surpreendemos sonhando com a vinda do Senhor no mundo, aquela manifestação que os textos antigos chamavam de vinda no final dos tempos? Nas nossas orações e devoções, oramos e cantamos “Senhor, tem piedade de nós” e tantas outras invocações. Alguma vez, veio aos nossos lábios a invocação dos primeiros cristãos: “Marana-tha”, O Senhor vem? Ou aquela invocação com a qual se conclui o livro do Apocalipse: Vem, Senhor Jesus?