O Natal Nosso de Cada Dia
[Em 01 de Dezembro de 2007 eu tinha uma visão bem negativa e realista demais sobre o Natal: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/760573
Este ano, algo mudou...]
Depois da minha infância passei a ter uma visão bem negativa e realista demais sobre o Natal. Toda aquela 'magia natalina' não me contagiava e francamente, eu detestava Natal. Tentava beber todo vinho possível para me embriagar e o tempo passar logo. Mas este ano, alguma coisa mudou... Algo me dizia que era cruel demais dizer que Papai Noel não existe.
Então, o Natal pra mim chegou em Janeiro deste ano. Queria que, quando chegasse Dezembro eu tivesse uma outra postura diante do Natal. Reli tudo o que havia escrito até então sobre a festividade. Pensei que em vez de estragar o Natal e a crença dos outros, deveria viver a data como eu a compreendo.
Fiz caridade durante o ano e fora de épocas comemorativas. A cada nova estação fiz faxina como a que fazemos no fim de ano e tudo o que não servia pra mim e servia para alguém foi doado.
Orei a agradeci a Deus todos os dias pela família, pelos parentes, pelos amigos, pelos meus vizinhos e não esqueci os prováveis inimigos. Toda vez que preparava o almoço e jantar fazia como se fosse já a ceia de Natal. Agradecia a mesa farta, minha família sentada à volta da mesa e sempre que recebia algum familiar que vive aqui perto, recebia como se já fosse Natal.
Dei presente fora de época para vizinhos, amigos e parentes. Não os comprei, eu mesma os fiz. Usei os pisca-piscas na Primavera em meio a decoração com flores. Comi Panetone e Rabanada no meio do ano. E desejei que as pessoas que tanto amo e que estão longe estivessem conosco, mesmo aquelas que já partiram.
Em Novembro desci ao porão para pegar a árvore, os enfeites e as luzes. E percebi que eu havia mudado muito durante o ano. Minha casa tornou-se cada vez mais meu santuário e não somente meu ninho. Minha família tornou-se meu sagrado e uma extensão de mim. E Deus passou a ser o meu Papai Noel, não só do céu.
Passei a respeitar mais a crença dos outros e compreendi que não importa em que as pessoas acreditam: ninguém tem o direito de tirar-lhes a fé, seja no que for. Talvez, a pessoa só tenha isso para se apegar e continuar a ter um propósito na vida.
As pessoas distantes passaram a ser mais importantes ainda. A distância criou uma saudade intensa e com a saudade percebi o quanto amo estas pessoas.
Houve momentos no ano que a mesa não esteve tão farta. Foi só então que percebi quantas pessoas passam não só o Natal, mas o ano todo privado de comer bem. Passei a sempre oferecer algo para comer a quem quer que fosse e compartilhar mesmo que houvesse tão pouco.
Este ano, a decoração de Natal não foi uma obrigação. Sentia um nó na garganta a cada enfeite colocado, pois em cada um surgiu a lembrança de cada dia deste ano. Neste Natal não darei presentes e não farei caridade... Só irei celebrar a benção de ter uma família maravilhosa formada de parentes, marido, filhos, cunhados, sobrinhos, pais, sogra, vizinhos e amigos. Irei celebrar a existência de um Deus que esteve entre nós e que não se importa com o modo que cremos Nele nem se negamos sua existência: Pedro negou Cristo três vezes e mesmo assim Jesus o amou.
Descobri que o Natal está nos preparativos para a festa. Está na trabalheira de fazer toda a comida que será devorada em instantes. Que não é o presente é o abrir o pacote e ser surpreendido. Que não é a comida, mas todos sentados à mesa comendo juntos. Que não é a casa que recebe e nem os enfeites caros ou baratos, são as pessoas que se amam juntas. Que não é a decoração, é a bagunça que fica depois. Que não é apenas um Deus ter nascido como homem, mas ser também Deus.
Viverei de certo um Natal como a muitos anos eu não vivo. Aquela magia encantadora retornou como a criança dentro de mim. Meu Natal será como o de todo mundo, portanto para mim um Natal normal. Não tão normal, pois é mais rico e mais verdadeiro, com maior significado, pois o vivi durante todo o ano.
Feliz Natal a todos vocês, queridos! Que para Cristãos o Cristo renasça todos os dias em nosso coração. E que para Pagãos não importa se Sol Invencível ou Sol da Justiça, não importa como seja a Força Maior sobre nós: ao que cremos e depositamos nossa fé seremos gratos.
E que através de nossa crença pessoal, não só esta data, mas cada dia de nossa viva seja sempre Natal!
[Para minha família: meu bem mais precioso]
O Natal Nosso de Cada Dia de Shimada Coelho é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a cria....