Uma reflexão de Natal...

Este fim de ano, pra variar, está sendo puxado (um dos motivos do meu sumiço aqui do site…). Tem muita coisa acontecendo, mas basta dizer três palavras pra todo mundo entender perfeitamente a gravidade da situação e nem querer saber do resto: “Reta Final do Mestrado”.

Nessas situações, a gente fica sempre querendo se concentrar no que é mais “importante”, deixar o resto de lado. Mas aí vem o Natal. Sim, o Natal: luzes, papais-noéis, rua movimentada até de noite, sorrisos, amigos-ocultos, músicas da Simone… Este ano pensei que iria passar praticamente imune a isso tudo. Mas, felizmente, não consegui. Em parte, graças à prefeitura de Juiz de Fora – impossível passar pelo centro da cidade e não desviar o olhar pra decoração de Natal, esse ano eles capricharam. Sem perceber, você já parou. E refletiu.

E foi o que fiz domingo, enquanto o padre dizia que o Natal “é a maior festa da humanidade”. Na hora, qualquer um com um pouco de conhecimento sobre doutrina se sentiria impelido a corrigi-lo, lembrar que a maior festa do Cristianismo é a Páscoa… Mas – péra lá! Ele disse “da humanidade”, não foi? Foi. Então talvez ele tenha razão. O Natal está além das fronteiras do Cristianismo, unindo tantas culturas diferentes em torno de uma mesmo clima… Cada uma do seu jeito, é verdade: na Europa celebram o dia de S. Nicolau (o “Papai Noel de verdade”); nos EUA gostam de duendes, renas, da tal da “magia”; no Japão fazem um boneco com olhos na nuca que vigia as crianças arteiras. Mas o fato é que o Natal está muito além de ser uma festa “só” cristã. A própria origem da data tem a ver com o dia da celebração pagã ao deus sol – já que não sabiam ao certo quando Jesus nasceu, resolveram dizer: “comemoremos no dia do maior dos deuses, que é o mesmo em qualquer lugar”.

Mas por que será que é normal ouvir um hare krishna, budista ou ateu desejando “feliz Natal” a alguém, sem nenhum constrangimento? Se muitos que a comemoram sequer acreditam em Deus (muito menos em Papai Noel), o que há de tão universal assim nessa data, para ser tão lembrada?…

Ceia de NatalBem, Natal é um tempo de solidariedade, de paz. E, é claro, da tríade família-presentes-comida, que não pode faltar. Natal, pra todo mundo, é tempo de trocar presentes regados a uma ceia apetitosa ao lado dos parentes mais próximos (ou não tão próximos assim…). Seja uma família pequenininha mãe-pai-e-filho ou aquelas enormes de quem tem 3 casamentos no currículo, cada um com dois filhos e uma ex-sogra. Natal é sagrado: tem que passar todo mundo junto.

E, convenhamos, é bonito. Presentes são uma bela forma de demonstrar carinho, e fazer a alegria do outro. Compartilhar uma boa ceia é comungar o prazer, a fartura, e todo o simbolismo que essa refeição traz. E é muito bom ter uma data em especial no ano pra reunir toda a família num clima de confraternização (ao contrário dos velórios…).

Papai Noel e a alegria do NatalMas então… Surge outra pergunta. Se é algo assim tão universal, por que tem tanta gente que não gosta de Natal?

Sim, senhor. Tem muita gente. E nem é preciso recorrer a blogueiros mau-humorados ou piadistas de Stand-up. Você provavelmente deve conhecer alguém pra quem essa data tenha um sentimento meio melancólico, triste – mesmo que essa pessoa não conte isso pra ninguém…

Mas… Por quê? Justo numa data que deveria trazer tanta alegria?… Bem, talvez exatamente por pensar nessas coisas que condicionamos à alegria, nessa época. Tem gente que passa o Natal sem paz, sem solidariedade – ou que passa a noite se lembrando de tanta gente carente dessas coisas, pelo mundo afora. Para muitos, não há presentes. Não há comida. E a família não é o ideal que se imagina…

Sim, é triste. Talvez essa melancolia seja também um pouco constitutiva do Natal, lado a lado com a alegria. Talvez o Natal não seja tão colorido quanto os dos comerciais na TV…

Noite de NatalMas aí, sabe… Me pego a pensar no primeiro Natal. Que também é uma cena universal. Não precisa ter um credo específico pra se emocionar com a bela história de uma Maria, um José e um pequeno filho… Que, naquela noite, ao que parece, não tiveram a solidariedade dos próprios familiares de José, ficando sem abrigo e talvez sem comida. Os presentes dos Reis Magos? Só algum tempo depois, ué. Nem com um boeing eles chegariam a um fim-de-mundo como Belém na mesma noite…

Foi uma noite que não lembra em nada as nossas noites de Natal, hoje. Mas talvez não tenha existido noite mais Feliz…

Em homenagem a essa Noite, então, relembrarei aqui, a partir de amanhã, um desafio que me fiz no ano passado, no meu blog pessoal: imaginar como teria sido aquela primeira noite. Deu um conto interessante, profundo pra uns, estranho pra outros; mas de forma alguma definitivo, pretendendo seguir algum rigor. Me inspirei nos Evangelhos, mas foi sobretudo uma liberdade que tomei, deixando a criatividade reinar no Natal, assim como deve ter reinado na cabeça daquele casal, ao preparar um berçário num curral…

Naquela noite nasceu a Esperança. Em meio a toda a alegria dos perus, Papais-Noéis e tios bêbados, não nos esqueçamos, pois, do que é mais importante. Não a deixemos morrer.

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