UM PEQUENO CONTO DE NATAL

Noite de Natal. Estrelas amenizam o medo do futuro.

Enfeites despertam os sonhos. Luzes acendem a fé no mundo melhor.

Canções dissolvem as mágoas. Portas se abrem com o renascer do amor.

Mesas postas. Algumas, fartas. Outras, apenas solidárias. Em poucas, a devoção supera o consumismo e o Menino Jesus é o principal convidado.

Numa casa pobre, Priscila aguarda, ansiosa, a chegada do Papai Noel. Sabe que ele virá, embora esteja atrasado. Os irmãos zombam de sua ingenuidade. Os pais há muito esqueceram o quanto é bom acreditar.

A ceia é simples. A árvore está coberta de algodão. Priscila abre o presente: sua antiga boneca restaurada, de cabelos mais escuros, novos olhos e um lindo vestido azul. Encanta-se com a pulseira colorida e com os sapatinhos que parecem de cristal.

As horas passam. “E o Papai Noel, cadê?”

A mãe leva Priscila para o quarto, mas a menina não se entrega ao sono. Arregala os olhos. Tenta não dormir. O cansaço, porém, é mais forte e ela adormece. Quando acorda, já é madrugada. A esperança cedeu lugar para a escuridão.

A tristeza ameaça se instalar quando Priscila ouve um sino, baixinho. O som aumenta e ela percebe uma luz no corredor. A maçaneta gira, devagar. A porta, lentamente, se abre.

Um vulto, roupa de cetim vermelho, barba branca sorrindo...

O coração de Priscila dispara e seus olhos brilham.

Uma voz rouca a faz pular de alegria:

- Rô! Rô! Rô! Rô!