Natal Caipira
O cheiro dos ramos do cipreste explora as mãos e as narinas. Vovô Adão leva os netos para um dos parques da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz para colher os ramos dos ciprestes. E na nossa meninice a alegria contagia. O Natal corre pelos ares, tais quais as renas do Noel. A mesa está armada no canto da sala. Faltam os últimos retoques. Os caminhos de areia assombreados pelos galhos dos ciprestes levam a algum lugar ou a lugar nenhum. O lago feito de espelho camuflado pelos montes de areia e grama feita de serragem colorida. As pedras feitas de papel. O monjolo de peroba movido a água encanada fica no canto da mesa socando o milho. Pam!Pam! Rec! Pam! Pam!Rec!
Na caixa dos guardados vamos desembrulhando peça por peça! Boi, burro, carneiros, camelos, galo, galinhas, pato, patas, sapos, rãs. Pam!Pam! Rec! Pam! Pam!Rec! Vamos pegando com muito cuidado: anjo, pastores, reis Magos, José, Maria. Cada um, já tem o seu lugar determinado. O burro, a vaca no interior da gruta, logo atrás da manjedoura para que possam esquentar com a respiração a criança. José e Maria ajoelhados em frente ao menino. Pam!Pam! Rec! Pam! Pam!Rec!
Uma grande estrela rompe os céus segura por linha de naylon. Vovô nos deixa livres para espalhar as personagens de cerâmica pelos caminhos, morros, lago. Tudo vai ganhando forma, movimento e beleza. Enquanto isso, vovô alegra os nossos ouvidos com a sua voz de barítono. Os cantos natalinos podem ser ouvidos por todos.
“Brilha, brilha, lá no céu,
A estrelinha que nasceu.
Logo outra surge ao lado
Fica o céu iluminado.
Ao entoar “Noite Feliz”, vovô entra na sala de braço dado com a vovó. As suas mãos em concha carregam Jesus Cristinho. Vovô ampara as mãos da vovó e leva o menino até a manjedoura. Lágrimas correm pelo rosto de vovó Irene, que por ser cega não pode visualizar a beleza do presépio.
OFEREÇO ESTA CRÔNICA PARA O ESCRITOR E POETA DESTE RECANTO IRATIENSE JOEL GOMES TEIXEIRA POR ME LEVAR AS LEMBRANÇAS FELIZES DAS PREPARAÇÕES DOS NATAIS EM FAMÍLIA.