Crônica de um natal revisitado


Os primeiros natais de que me lembro têm como ambiente as casas de minha mãe e de minha avó.

Ambas excelentes cozinheiras, e havendo muitas crianças e jovens, a preocupação das "mamas", principalmente, era alimentar a moçada. Minha mãe se ocupava também de  meu pai, que era um dengo e gostava de um agrado. E como ele pagava as contas, ela fazia aquele "cabrito" que o velho apreciava.

Meus avós criavam coelhos, galinhas e porcos. Na época não era tão incomum isso tudo. Assim, quando o almoço de Natal era lá na Rua Catequese, juntava todo mundo: todos os filhos, genros e noras, netos e sobrinhos, alguns agregados e primos também. Umas 60 pessoas.

Eu gostava de tudo isso, pois no quintal eu brincava com meus primos e primas. Momentos bons de se guardar. Meus irmãos estavam sempre por perto, tanto os pequenos, de quem eu ajudava a cuidar, quanto os meus irmãos mais velhos, meus ídolos (depois deixaram de ser, mas isso não importa).

Eram muitas mulheres na cozinha. Cada uma com sua especialidade, então o almoço de natal invariavelmente estendia-se ao jantar. Enquanto elas se entretiam com os pratos salgados, massas, saladas, assados e sobremesa, os cavalheiros ficavam no jogo de dominó (os irmãos de minha mãe eram campeões, com troféus e medalhas).

Após o almoço, meu tio Hugo convidava a todos para a tradicional tômbula. Eu adorava esse meu tio, que sempre foi muito carinhoso com a gente e me sentava ao lado dele, enquanto entre uma e outra partida, nós conversávamos. Minha tia também vinha e conversava conosco, dando-nos uma importância que não era usual se dar às crianças na época.

Num desses almoços, na casa de minha mãe, estávamos todos animados à mesa, nos confraternizando. Alguém bateu palmas  no portão e minha mãe disse que entrasse, sem perguntar quem era.

Dona Olga achou que fosse algum amigo de meu irmão. Meu irmão, achou que fosse algum conhecido de meu tio, que pensou ser algum colega de meu pai. O desconhecido foi convidado a sentar-se e participou do banquete.

Até hoje minha mãe ri muito ao se lembrar disso. Cheguei a pensar: terá sido a misteriosa visita algum aviso ou algum fantasma? Afinal, a família era católica ma non troppo.
Sônia Casalotti
Enviado por Sônia Casalotti em 16/12/2008
Reeditado em 16/12/2008
Código do texto: T1339169
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