Mensagem de NATAL

No dia 25 de dezembro deste ano, como quase todos os

aniversariantes, já sei que vou viver um longo dia de expectativas ... que, apesar de desejar que ele passe depressa, o dia vai se arrastar, preguiçosamente, aumentando muito mais a minha angústia, a minha tristeza, como tristes foram quase todos os meus Natais ...

Lembro-me de quando era criança que somente sabíamos que era Natal porque meu pai reunia toda a família para assistir à Missa do Galo, à meia noite do dia 24 de dezembro, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em minha cidade Natal, Coruripe, no litoral Sul do Estado de Alagoas.

Meus pais, apesar dos esforços expendidos o ano inteiro, não juntavam dinheiro para meu aniversário ou de qualquer outra filha, nos meses que antecediam o Natal.

Éramos sete meninas, o que justificava a falta de tudo para todos. Por isso, na minha ingenuidade, eu não entendia como os meus pais, carentes, e com diminuta cultura, tinham tanto amor para nos dar... Como o meu pai trabalhava de sol a sol, de segunda-feira a domingo e ainda encontrava ânimo para cantar tanto e agradecer a Deus por não nos faltar o pão de cada dia.

Meu pai aniversariava no dia 18 de dezembro e minha mãe sonhava, um dia, poder fazer uma festa tripla : comemorar o Nascimento de Cristo, o aniversário do meu pai e o meu. Contudo, isto nunca chegou a acontecer dadas as necessidades cada vez mais acentuadas da família.

Foi pensando nestes acontecimentos de infância que eu escrevi Lembranças, o que bem definia as nossas vidas.

LEMBRANÇAS

Quando vem o Natal, vêm- me à lembrança

as histórias que ouvia, os madrigais ...

E tento reavivar a confiança

que, na infância, traziam meus Natais ...

Recordo a casa cheia de criança,

meus pobres natalícios sempre iguais,

mantendo acesa a chama da esperança

no "presente" de DEUS para os meus pais ...

Num Natal ... Vinte e Cinco de Dezembro,

há quanto tempo quase nem me lembro,

generoso, o Bom Pai Celestial,

tendo pena por ver tanta pobreza,

num gesto de piedade e de grandeza,

mandou - me como um brinde de Natal !

Depois ... a família foi crescendo ... crescendo ... crescendo, até que meus pais formaram um time de futebol, acrescido de juiz, bandeirinhas e alguns torcedores : 17 filhos, o que tornava impossível sonhar com festa de aniversário para quem quer que fosse.

Eu era muito romântica e, sonhadora como era, acreditava que nascer no dia 25 de Dezembro, no Natal de Cristo, já era um sublime passaporte para ser feliz ... Ledo engano !!!

Sonhava que ia ser advogada quando crescesse, que iria me casar depois de completar 25 anos de idade... que teria uma família pequena ... e, no meu romantismo, já imaginava meus filhos formados, com uma vida muito melhor do que aquela que tínhamos etc.

Os meus pensamentos voavam ... eram tão rápidos que, quando um passava correndo pela minha mente, outro já estava entrando no circuito.

Minha imaginação era tão fértil que eu podia garantir que nunca iria morrer. Imaginem !!! Sinto-me morrer cada dia um pouco !!!

Quando eu pensava muito alto, na sala de aula e deixava transparecer o meu excesso de fantasia, dona Hélia Brandão, minha professora mais querida, se não acreditava no meu sonho, me dava a maior força e me impulsionava a sonhar cada vez mais, o que não acontecia com outras pessoas.

- Como essa menina do interior, que não sabe nada da vida, do mundo, pode ter tantas " minhocas na cabeça ", perguntou, um dia, dona Lígia, à diretora do Grupo Escolar Ignácio de Carvalho, onde eu fiz o curso primário ?

Será que você tem um parafuso frouxo na cabeça, Maria ? - um dia, Indagou-me bem humorada !!!

Meu pai partiu muito cedo e não teve tempo de ver um dos meus sonhos realizado. Um sonho que até ele parecia duvidar que um dia pudesse acontecer : minha formatura em Direito.

Foi um dos dias mais tristes da minha vida. Só não se poderia comparar com o dia em que perdi meu ídolo, o meu pai.

Eu me senti como uma ave cantadeira, mas de asas feridas, incapaz de alçar vôo, incapaz de pensar em outra direção que não fosse a minha infância, a proteção dos meus pais, a esperança que tinha em mim mesma.

Imaginei-me atrás de uma mesa abarrotada de processos novos e outros empoeirados, quase caducos, na maioria das vezes portadores de depoimentos e documentos falsos, injustiças e mesquinharias.

Em 1994, depois de algum tempo de atividade literária limitada, em razão de uma esquemia cerebral com poucas seqüelas, no curso de um tratamento alternativo, talvez “inadequado”, infelizmente, chegou o momento de chorar pela perda irreparável do magnífico poeta Élton Carvalho, o companheiro de mais de 25 anos de caminhada lado a lado, o delineador dos nossos projetos de vida, de bonança.

Depois de passar por muitos momentos tristes : a perda de seis irmãos, antes da partida do meu PAI, depois, a ausência de minha MÃE e do meu irmão mais novo, me imaginava forte o bastante para enfrentar todos os demais embates da vida, já que o tempo, generoso, ajudara a amainar tantos sofrimentos, ajudado pela crença que eu julgava inabalável.

Hoje, que se aproxima um novo Natal, volto há alguns anos e me sinto como outra ave muitas vezes enferma, de asas feridas pelo desencanto, que a vida se encarregou de calar o seu canto pelo muito de minha alegria, minha fé, minha esperança, minha felicidade, enfim, tudo que fazia parte do meu inconfessável desejo de vitória, o que me fazia imaginar que,

" Meus Natais foram tristonhos

só porque Deus não me deu

o PRESENTE que, em meus sonhos,

a ilusão de prometeu " ...

E, como todas as manhãs, desperto com a sensação de que meu dia vai ser glorioso, vou encontrar o "tesouro maior " , que o meu pensamento se recusa embalar num bonito papel de presente e esquecê-lo numa gaveta invisível da minha alma, para dar uma trégua aos meus desencantos.

A vida me concedeu muitas benesses, eu reconheço, mas, por ingratidão ou desajuste emocional, trocaria todas essas benesses pela realização de um sonho, o SONHO que, se transformado em realidade, seria capaz de restabelecer a minha alegria, a fé, a esperança e a felicidade que tanto estão presentes nos meus devaneios e tão distantes do meu coração.

Desejando a todas (os) as (os) amigas (os) um FELICÍSSIMO NATAL e um ANO de 2009 repleto de alegrias e que Deus, o nosso milagroso Pai Celestial conceda a todos tudo o que se fizer necessário para uma felicidade plena e infinita, peço perdão a todos pela amargura que reveste esta mensagem tão plena de verdades e de tristezas.

Um grande abraço desta amiga de sempre, que muito os admira, respeita e preza, pedindo milhões de desculpas pelo desabafo, tentando dar um pouco de alívio ao meu coração, cansado de tantas perdas irreparáveis no curso da vida, que, apesar de tudo, teve imensamente muito mais alegrias do que tristezas, mais vitórias do que derrotas e que recebeu muito mais provas de amizade do que qualquer ser humano poderia esperar da vida ... do Destino.

Maria Nascimento Santos Carvalho

Maria Nascimento
Enviado por Maria Nascimento em 06/12/2008
Reeditado em 16/12/2008
Código do texto: T1321695