A menina passa boa parte da vida, esperando ficar moça. Guarda virgindade para o matrimônio, mas o homem é garanhão como um cavalo roncando atrás de uma égua no cio. Vil machismo: o que é pecado para a mulher, não o é para o homem. O dicionário também machista: registra só palavras masculinas, o gênero, se faz à parte. Há também outros livros que protegem o homem. Fala de mãe solteira, e não menciona o pai. Apedreja a mulher adúltera. É o padrão social. Maldita regra que a sociedade dita. Ninguém reclama, ninguém grita. Mas no meio do caminho está um ancião de vestes brancas. Ele não atira pedras, só replica: “Mãe não é estado civil.” Porém, a multidão de pecadores se irrita.
— Lá vem a mula-sem-cabeça.
— Que é isso?
— Mulher de padre. Dizem que vira mula-sem-cabeça.
— Mula-sem-cabeça não é a besta fera?
— Parem com isso. Tenho medo — disse uma aluna, entrando para a sala.
O bedel toca a sineta.É hora de ir para casa.
***— Lá vem a mula-sem-cabeça.
— Que é isso?
— Mulher de padre. Dizem que vira mula-sem-cabeça.
— Mula-sem-cabeça não é a besta fera?
— Parem com isso. Tenho medo — disse uma aluna, entrando para a sala.
O bedel toca a sineta.É hora de ir para casa.
Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...