Diferente das meninas que quando crescem, guardam suas bonecas numa caixa, Fernão com dezoito anos, ainda brincava horas a fio com seu trovão azul, simulando manobras arriscadíssimas e imitando o barulho do motor: thá... thá...thá... thá... thá...thú... thú... thú... thá... thá...thá... thá.. thú... thú... thú... thú. Boa alma tinha o menino: gigante em estatura, e coração criança.
Todas as coisas lhe devem fidelidade e obediência, do contrário, seriam punidas. Quantos carrinhos queimados em fogueira?... Quantos socos e pontapés levaram as portas e paredes porque não saiam de sua frente!?
Olhar distante, desatento aos estímulos externos, parecia viver um mundo diferente daquele dos falantes. Quando pequeno, criou seu próprio vocabulário para dar nome às coisas, de modo que sua comunicação só era possível com a família, e com as pessoas do relacionamento. Bité era chupeta, e menino, miné. Em seu país, a rede pública de ensino, não estava capacitada para lidar com crianças portadoras de necessidades especiais, se os pais do menino não o houvessem remanejado para um colégio particular, Fernão jamais se tornaria aviador.