Produzir faíscas pelo atrito de duas  pedras foi doloroso e desanimador. Mas, quando conseguiram fazer fogo numa ilha, os náufragos  dançaram como nativos em volta de fogueira.
O fogo se levantou entre os gravetos. Crepitavam os galhos verdes, e insetos saltavam em fuga espetacular. Abismados, Daniel e Ravenala viam imagens na lenta composição fantasmagórica da fumaça tocada pelo vento.
— Façamos a dança dos fantasmas – disse Daniel.
— Não! Quer pelo efeito hipnótico, quer pelo narcoléptico, que se dá com o uso da diamba, a  maioria dos rituais indígenas atraem maus espíritos que se apresentam como a boa alma de seus ancestrais.  Tenho medo de fantasmas. Até o general Custer temeu e enfrentou seus medos, levantando o exército norte-americano contra Touro Sentado.
— Façamos, então, a dança do fogo.
— Por que não a dança da chuva?
— Ora, bobinha! A chuva apagará o  fogo.
— Tenho sede.
— Logo mais subiremos a encosta. Se tivermos sorte, encontraremos um manancial de água doce.
— Então, subamos logo. A lenha é suficiente para queimar pelos menos por duas horas.
Subiram. E em menos de uma hora, estavam de volta.
***
Adalberto Lima - Estrada sem fim...(obra em construção)
Imagem: internet