A Pólvora e o Vento
sou valente
e
forte,
miúdo
e
solene.
sou capaz,
mas indigente.
sou de amores
mas não
sou mais
rapaz.
na rua falam
de longe:
lá vai ele,
o homem
sem parentes,
lá vai o
catalano.
lá vai o
solene sozinho.
lá vai
o homem
que deixou
passar a vida.
e, de mais
uma coisa
eu sei:
vida vai,
vida vem.
e chega
uma hora
que você
vira
bento,
vento,
lento.
vai virando
pó
dos exaustos,
pó
das esquinas,
dos falsos
e dos
impolutos
faustos!
Nessa agrura,
só sei,
que a pólvora e a a bala
sempre foram paixão ds débeis,
e longe do amor, nunca foram
parentes.
E de uma eu sei
que avida vai,
que a vida vem.
e chega
uma hora
em que você é amante dos vazios.
(Poesia dedicada à Ticiana )
A Roda e o Bastão acompanham o homem. E já faz parte de sua história. A Roda para conquistar ou fugir e o Bastão para humilhar e agredir.
Mas, sem o caos, não teríamos nem progresso e nem desenvolvimento. Contudo, a missão do caos é ferir.
Mas, no contraditório, o caos faz o poder dos fracos.
E o que podemos fazer com a luz que não podemos ver? No tempo, o carvão escuro se dissolve rapidamente, enquanto a claridade é eterna.
Sinto Que Sinto
Sinto que sinto,
que nada me passa,
que sou alcance,
pedras de triturar,
comodatos dos fiéis
cavaleiros sem reino.
Se vem da terra,
boia na água,
encharca os vinhedos,
sem voltas, de passadas
e goles rápidos,
cheio de repentinos.
Sinto o que falta
começar para
acabar.
Sinto que falta -
o início do falso -
que começa a chegar.
Sinto o que passa:
na terra dos caracóis.
Se ela passa
vou untado de mel!
na terra só minha,
onde rodopiam girassóis!
Não importa seu caminho:
deve ser curto,
cheio de pavio, premente
para lançar chamas
no vale do amor
sem sol.
Se vai, vou atrás.
Não me importo
com abreviaturas da vida,
se ela passa, passamos nós,
se o pêndulo da meia-noite
marca as horas do medo,
afago as mãos dela,
e peço, meio cáustico
e redentor,
não me deixe sozinho
neste jugo de solidão.
Se foi, partiu devagar.
Se chegou, veio com pressa,
se me mandou cantar,
afogo minha voz
na ária dos mudos.
Se está certo
o certo vai provar.
Se errado caminhou
o cervo vai acordar.
Se sou dois caminhos
numa trilha apagada,
sou voz trêmula, também
pra gritar:
Me procura, nos
caminhos curtos,
de vento azeitados.
É lá que fico,
por horas,
por esmero,
à espera da saia longa,
brocada de suaves e
lânguidos amores.
É lá que espero.
É lá que mora
meu desespero!
Perto da Casa Própria
Cheio de Solidão.
Nossa Casa Que Não Sobreviveu
Lânguida vida
que de lembranças
só atrai dos mortos;
suspeita ação dos deuses,
que me revivem cada
face que perdi.
Foi ao longo do tempo
sem medidas e sem horas,
que eles foram partindo,
como trens fantasmas
de uma estação perdida.
Hoje, todos se foram.
Augustos!
E muito queridos !
Agora,
Sou pedra fria
dos sozinhos,
arma sem nome
dos feridos !
PROCURANDO SONHOS
Sou pouco,
e ralo o bastante,
mas pra chegar perto
do meu sonho,
tenho o alarido
dos céus razantes!
Sou pouco,
mas não sou travesso,
rodo o mundo de trastes,
a procura da gente dela,
que nasceu próximo a um
córrego,
e morreu no arremesso
do primeiro lago.
Tão fundo, que faz a alma,
construir sonhos
de arte.
Se me queres!
Queres assim:
dois pra cima,
veludo em calma,
flores esparsas,
mas toda guerreira!
Esgueira!
Deixa-me ser
seu próximo passo,
pois hoje
apenas vivo de sonhos !
Principado do Coração
Ainda bem que é sobre hoje,
que é um dia sóbrio,
corrido de interpretações
passageiras,
longe de qualquer paraíso,
mas cheio de eventos.
É sobre hoje:
sem reservas,
esperas perdidas,
ocasos de saudades
com devaneios no peito;
e para dirimir dúvidas
levo um pedaço de céu
que debruce em seu
olhar.
É sobre hoje:
é só esperar, acomodado,
que passsem as horas que quiserem
passar.
Mas não se engane com
o tempo
uma hora ele está aqui,
outra, voa com você
para a estrela mais
chegada.
É sobre hoje:
minha estrada chega ao fim:
e é quando começa a sua.
Seguir atrás por dever e
obrigação não posso.
Digo eu: é sobre hoje,
que vou encontrá-la
em algum lugar de algum
passado.
Não importa o caminho,
pode ter até três pontas e
uma armadura.
Mas vou lá fazer
você feliz!
E sobre hoje você
espera:
vou chegar inspirado com
principado no coração
e te entregar
rosas de ante-mão,
coloridas, bondosas
como sempre foi sua
clã de querências.
Um dia, o príncipe se torna rei,
você a rainha,
e eu me me torno amante do
Principado do Coração.
Senhor das Portas
Diferente de tudo,
compadecido de todos,
frugal, ativo
e necessário;
coloco sobre a mesa
de pesamentos
aquela que me primariza como
bom devedor.
Não basta saber,
bem ocultar,
falar aos sussuros,
pensar,
só medrar,
ávido e cativo.
Na minha porta de cedro
aguardo as repentinos
que surgirão na leve
madrugada.
São sonhos vizinhos,
imagens sem tempo,
figuras dela,
ocultadas
no fundo do tempo,
muma hora que nunca existiu,
num tempo que morreu,
sem velório de lágrimas,
assim, como se abana
o tempo devedor
com a carícia de lástimas.
Hoje somos apenas vizinhos
de duas portas:
quando ela abre seu portal
de lágrimas
eu fecho minha muralha
de saudades.
Dança Colorida do Vento
O rumo é atrevido
e parado,
a paz é suspeita,
a dor agrura,
de todos os lados.
Meias-paredes,
fazem aparentes cortinas,
zanzanadas pelo tempo.
Longo tempo de balbuciar
ao vento!
Eu,agora cá,
amorfo entre os lencóis
sancristos,
penso o que é a
vida
senão açoite !
Os milagres
estão
em descréticos.
Pelas longas
horas de saber
a vida me ensinou,
lenta e vagorosa
que os homens
não são
iguais
mas extremamente
desiguais.
surgem entre
o desejo
de ser rei
e temem
pelo medo
de não
serem reis.
Ah! mil léguas de dor!
traídas pelo tempo!
Cujo, tem nome:
é medo.
O corretor
de guerras
teme os
alheios,
e os visigodos
pois podem perder
a marmita de
ouro
que lhe são entregues
todo o tempo.
Perco a hora
mas não perco
pela honra !
E zera o tempo,
e faz costume
de areias perdidas !
Canto dos Dias
Canto o canto dos dias,
canto os pássaros,
a meiga paisagem,
a torta de amoras,
canto a faina dos
homens embriagados.
Canto o próximo como se a mim
fosse um pedaço de outro eu,
entrelaçado por fortes
cordas de amores cedidos.
Meu canto é seu canto,
minha voz é a sua,
meu desejo é vovê.
Mas que fazer?
Dúbia encruzilhada
armou deuses
nada patrióticos.
E como nasce o
sol de repente,
sem remendos,ela disse
adeus.
Pura história simples,
sem estrias.
Só dor de amargo.
Dor sem fim.
E pensei comigo:
só na Somália!
Descobre-se a morte
dentro da vida.
Aqui, no meu canto,
de pouca valia,
e nenhum dengo,
peço por ela.
Dê a mão
e cruze meu destino com o
seu.
É fácil: é só atravessar
um imenso campo de trigo
e, lá no final,
você vai encontrar um rútilo
espantalho.
E disso que faço da vida.
Ou que a vida fez comigo.
(Poesia dedicada à Ticiana )