Uma Grande Confusão
de um lado me aparteiam
sombras,
de outro, dançam fantasmas.
mas sei o que sou,
mas sei que não sou.
dúbia aventura:
do outro
lado, de algum mundo,
que passou
ou tépido,
que está passando,
ela está viva,
e veste roupas
de rainha
cercada de motes
de jardins e flores
de amantes.
eu a enlaço no sonho
e sei que não sei,
mas nesta história
sei que ela está viva
mil anos à frente,
e eu lá vivo
mil anos atrás.
história esquisita,
história estranha,
ah! vida encravada !
mas são luzes dos benefícios.
mas que eu sei que sei,
eu sei,
mas que também sei
que não sei,
também sei.
minha alma
não tem lei ,
nem é afeita
à fantasmas.
vivo no calmo,
mas, de repente,
me repasssam
para sonhos
feéricos.
onde não sei
o que é realidade,
e também sei
que tudo é pura
infelicidade.
em resumo, não tem resumo, tem uma grande confusão, onde vive o caos do amor.
Flor da Neve Faz Meu Leque de Amor
Meus pés são de barro e nem por isto, homem de folia. Calço 50, homem de botas largas. E quantas eu disse e quantas a toquei,e as perdi. E falávamos apenas de coisas fagosas e desaparecidas, como o pó e o tempo.
Quem é de lá sabe de onde vim. Se morreu, morreu pra sempre. Envolta numa casca de noz - cansada de anos, toda picada de avestruz. De perto era uma festa de solidão. De longe boneca enfeitada de barro. Se morreu morreu pra sempre. E morreu bem, não foi notícia pra ninguém. E quem disse que tudo são duas portas?
Se é doce é de mamão, se é cor é de fantasmas. Fogem pelo corrimão e enfrentam sonhos gentis. E se morreu, morreu calada e triste, mas morreu bem.
Época de Mary Quant - onde repousam tesouros. Calça larga nem pensar. Corridas aos botequins, padarias, empórios. Dia de batata doce. Nos engenhos, pés de barro, saias bordadas, bem fundo no pé. Beijos só em refugos. Nas abóbodas de luz. Santo não vêm em casa. Palha, buscapé, batata doce, pois amores de verdade só nos fundos do engenho.
Veste o véu na casa rota. Corre à terra com brilho vestal. Faz do homem, um parceiro e trás o calmo pra plantar. Veste o sol, escorre de neve o sal, mas volta pra casa pra plantar.
Bebe vinho junto ao barro. Faz as medidas do pai, pois sonho bom não vêm. Se divide em quatro partes e toma as medidas do pai.
E lá estão morrendo em dueto, o pega-pega, o bonde, o facho, o caubói das três. As estátuas fazem colo e a boa linhaça da juventude não abre mais portas.
Faz a roda que eu danço. Torto, mas danço, mas não me devorem com suas fomes. Do barro faço o pés, caço aprendizes da fome e ensino-os a beijar a terra. Faz a roda que eu danço, mas de mim não faz a fome.
Cem anos na sombra e ela nem perguntou meu nome. Queria um cordão de ouro, um cruxifixo de marfim e uma caixa de música. Como não tinha dono, tirei a foto, bebendo vinho num cetro de ouro. Mas na sombra fiquei - cem anos e vão lá e nem perguntam meu nome.
E quanto mais tempo passa, mais poço e fundo ele fica.
Uma coisa leva à outra. A mesa leva à toalha, mas o vértice ao quadrado. Bate três, sem coelho e sem cão. Chegam John e Scott e soltam pólvora. Adormecem no colo de Ava, Débora, Brigite e Ava. Ah! Pipocas trás o primo desdentado. Um sonho azul, meio belga. Robin e Marian de bruços catam uvas. Mae West , de branco se sufoca nos braços de Jack. Não é sonho . E todos dizem : "avante John, duela", trás meu sonho de volta.
Sai do barro às seis em ponto, com oito músicos de cada lado,um mecânico, um pão, uma botelha de vinho. Ela, vestida de pano, me levou, sem graça, sem pagar. Perto do seu abismo me serviu torta de leite e mingau de trigo e mandioca. Mas no brejo, descalso, fiz ela rainha de todos os sermões e dona de todos os pecados. Se sobrou, foi em vão.
E estas lembranças do tempo de barro, de calças curtas já estão na soleira da porta. Pedem para entrar. São rascunhos de memória curta. E ela na cadeira de cedro, vestida de rosa me pediu pra sair. E da porta, passa a carrocinha e leva tudo. Ninguém mais entra, ninguém mais sai.
De mim só restam lembranças de pés de barro. Ninguém mais entra, ninguém mais sai.
Letra em Torto
Se é verso que te faço
preparo o cordel de palavras;
laço o improviso,
e mando três ramos de linhas,
que se mal não fazem,
bem, é total duvidoso, e não
faz sorriso.
Não sou homem de palavras
nem de uma! Matrapilho
sílabas que nem ardem!
Vivo remoendo espaços
a procura delas.
Encontro mal!
Não tem dorso nem
caminho - só letra em torto.
Por isso me calo,
e deixo lá que a vida
te entregue o que sinto,
por meio do cálido vento,
busque o poeta na casa
do sol,
e deixe roçar
em seu rosto, as luas
que perene mandam dizer
em poucos versos:
Saudades minhas?
saudades suas!
Tudo em verso!
Chore hoje
e esqueça
que já fui dono
desta pousada
de estrelas !
Agora vou quieto para
a casa do sol de ontem !
Mesa dos Esquecidos
Vôo, mas não é meu plano,
corro os cerrados, avisto montanhas.
Depressa me defendo:
faço o vôo razante.
E faço por ela
e ela não diz por mim,
se meço sua distância
vejo pouco:
nado em alturas.
Sintonias de saudade:
não posso chegar lá,
e nem ao menos
conquistar algum pedaço
da terra povoada por ela,
ou a meia-parte do cerrado:
lascivo canto onde dorme sonolenta!
De tudo ela levou
De bravo: só um ficou !
A metade de seu rosto
deixou de ser espelho
de duas faces - guarnição
moderna dos sozinhos .
E no sereno do mar galeu,
atiçam ondas sem nome
lá na praia onde só abortam
os sinais dos idos.
E tudo se apruma
sem o apoio de cedros do
passados.
E me fere,
e me augusta:
o pêndulo e o galope!
Se você segue,
não sigo mais.
Perdi e não tenho
ganho.
E se algum dia
me perguntarem
por tal flor,
digo eu lá:
veste a mais bela
mesa de vesta, e
se transforma em
purpurina, na mesa dos esquecidos !
Bela, Com Afrescos de Amor
Sou montanhês de dois
cajados,uma manta de lã,
uma meia de cabra;
não tenho parentes,
só espinhos.
Não que seja bravo,
sou montaria dos ventos,
e maino do sol.
Me ruivo ao rodopiar
ao forte sudeste;
tenho cabras leitosas,
e quando cai a noite
me fecho em abas.
Sou simples e rudimentar.
Não sou de fugir
mas tenho medo,
quando acordo,
pois é a majestade da montanha
que me desperta, e nasce a
festa interior do homem.
Os pásaros se rebuliçam,
as coisas se esticam,
a natureza se esfrega como
dois pombos apaixonados,
o sol é o primeiro a chegar
retirando lentamente a
noite de seu lugar e
é o último a nos deixar.
Não conheço vales, nem campos,
o que vejo aqui de cima
é algum puro mar longíncuo
e restos de palhoças,
bem dispostas,
dançando ao veroz vento
e se abrigando do forte sol.
Por isso se me procurarem
digam que nada acharam,
não por vesgo ou à esmo.
Digam apenas que nada viram
ou se viram ,
se depararam com um homem
simples, um sol no coração
e um desespero na alma.
Fugi, fugi de todos
por mera precaução:
descobri o amor e tive
medo de abraçá-lo.
Se vivo só, vivo augusto,
coberto de panos
e sempre que faço anos,
não sou ilustre.
Mas se me virem,
se me virem, digam
que vivo diante das pedras
e sonho todos os dias
com a leva de cordeiros
e carneiros.
Se sou assim, sou assim.
Reino Sem Rei
sou valente
e
forte,
miúdo
e
solene.
sou capaz,
mas indigente.
sou de amores
mas não
sou mais
rapaz.
na rua falam
de longe:
lá vai ele,
o homem
sem parentes,
lá vai o
catalano.
lá vai o
solene
fulano.
lá vai
o homem
que deixou
passar a vida.
e, de mais
uma coisa
eu sei:
vida vai,
vida vem.
e chega
uma hora
que você
vira
bento,
vento,
lento.
vai virando
pó
dos exaustos,
pó
das esquinas,
dos falsos
e dos
impolutos
faustos!
AS TORRES DE CALINO
faz tempo,
até dois,
eu acho.
faz tempo
que a gente
não se vê.
você tá lá,
eu tô aqui.
distância
muito grande
pra dois.
então faz assim:
você arruma um homem
dai,
que eu arrumo
mulher daqui.
e ai a gente faz a rima
dos desamores,
sem tinta
ou valores.
eu chamo você
de ralo amor,
e você chama ele
de vago
desamor.
E no soar os sinos
de Calino,
a gente vai compreender
que a vida tem dois lados
e nós não moramos
nem lá, nem cá,
pois só vivemos
na face morena
do desamor.
Mistura de Álcool e Café
Os muros não
foram feitos
para unir,
foram criados para
serem ardoses
do desespero.
Se na hora das
seis horas,
criei um,
foi de boa vontade
e de total propósito.
Você, agora,
fica lá
e eu aqui.
Você navega pro rio
eu vou pro mar.
Eu sento ao oeste
e você badeja seus
cabelos ao sudeste.
Pois a vida é assim
quando não se pode
amar com flores e latência,
constrói-se mesmo um muro
bem largo, e de cimento grosso .
E você passa a viver pra lá
e eu pra cá.
Posso não entender mais
o amor rarefeito
que você me dá.
Mas entendo de argamassa
e cimento.
E se puder vou morar
nele, como
ninho, igual a um pássaro.
Mas você,
você, um dia era
uma coisa.
Você, um dia
virava outra coisa.
Um baile que
fez na minha vida.
Fez uma mistura
de caos, e criou
álcool com café,
no nosso amor
rendado de agruras.
Faz do Puro Branco a Coberta de Nosso Amor
Flores de caminhar,
rosadas, augustas,felizes,
flores de achar;
basta nela uma viagem
para em seus laços se abraçar.
Trilhas cobertas de névoa
de outono, para andar e viver
corredores de ouro iguais à pérolas.
Faço por ali minha direção,
e debruço só, na úmida na relva,
e sonho, um dia, com seu
beijos de mil saudades de verão,
com dúzias de luzes
só de néon, no grande
pórtico de vazio
que me debruça neste mundo!
Mas,
se me basto,
também
não
me calo.
se falo
é por dizer,
se ouço
é por dever.
lá perto
de casa,
corre
a passarinhada,
ouço o canto
da janela
- que é esperta -
toda se abre
para ouvir.
fico à espera
do canto
sem fanto,
sem manto,
e vou de
carona
levar
doses de
amantes.
é só ela,
é so ela
que canta!
que bela!
ela me
faz de
todo de
encanto!
pois agora
não choro mais
por mera
falta
de
acalanto!
(Poesia dedicada à Ticiana )