Pedra Fria

 

 

Lânguida vida
que de lembranças
só atrai dos mortos;
suspeita ação dos deuses,
que me revivem cada
face que perdi.

Foi ao longo do tempo
sem medidas e sem horas,
que eles foram partindo,
como trens fantasmas
de uma estação perdida.

Hoje, todos se foram.
Augustos!
E muito queridos !

Agora,
Sou pedra fria
dos sozinhos,
arma sem nome
dos feridos !

 

 







 

Fui Pra Ficar

 

fui pra ficar

perto dela

- juntinho -.

 

sentamos na sala

eu, ela,

mãe,

pai.

 

atmosfera

toda familiar.

 

ela doida por amplexo,

eu doido

por isso também.

 

mas só na sala

ficamos.

 

o pai

me serviu

cigarrro,

a mãe,

chá.

 

fui pra ficar

perto dela,

mas minha

noite

virou de oferendas.

 

fiquei perto dela

- é verdade -.

 

mas fumei

um maço de

cigarros,

e bebi

1 litro

de chá.

 

moral de

minha história:

passei a fumar,

passei a só

chá tomar.

 

e muher que é bom?

minha linda mulher?

 

o pai mandou

meu amor,

estudar

no monastério !

 

Ah! Que pai feérico !

 

Pois eu?

só,

e meio, ou de todo,

meio histérico !

 

(Poesia dedicada à Ticiana )













Lembrança dos Vagos

 

 

Já vi de tudo, 
de casco ao tombadilho, 
do céu,à terra, 
tudo espelha seu rosto, 
tudo diz de você, 
do começo ao fim.

 

Já vi de tudo, 
seu espírito mais brando, 
que é sorvido no cálice de 
cristal, alinhado de flores. 
 
Vitória dos poucos, 
lembrança dos vagos! 
 
Já vi o mar e as 
areias rainhas, 
vi 
o céu, 
e também 
rezei às 
ladainhas! 
 
Vi homens lutando por migalhas de 
pão. 
Vi o mundo girar ao contrário 
como uma gude atrapalhada! 
 
Feliz vitória de 
um homem que um dia 
achou que era só 
e foi descobrir que o eu 
só não existe. 
 
Existe a distância e reta 
- meu bom senhor - 
mais tudo dá sua volta, 
igual a flores relegadas! 
 
Mas neste jogo 
nada têm volta. 
 
E se volta tiver, 
aguada que seja, 
quero ser seu par 
de olhos.

 

Quero amaciar sua mão branda, 
e resfolegar igual a 
uma rainha, 
envolta e sossegada, 
em mil 
saias de chegadas! 

 

Dai faço a festa
alada,
abrandada por fados de amor,
e uma eterna carícia
nos torna flor de querer.

 







 

Minha Pele na Sua

 

 

 

Minha pele na sua
é simples,
mais tocante,
mais profundo
e tenro.

 

Minha pele na sua,
é presença é ausência,
é chegada,
é partida.

 

Minha pele na sua
é vida,
é sol,
é um jardim
de flores brilhantes.

 

Minha pele na sua

é fulgor de lágrima,

e tem interior azul

de vida.

 

Minha pele na sua é o despertar

do sol,

é a chegada da Lua,

é a oração do amor,

é a compulsão do viver.


Minha pele na sua
é eternidade de dois
queridos,
 de mãos dadas,
de um sonho,
mas é realidade.

 

É a química dos deuses

de amor,

que ficam

de prontidão,

para que o início não tenha

fim.

 

Eu sou isso,
sou aquilo
mas conquistei
sua pele na minha.

 

E estamos dentro de um tempo,

numa bolha colorida por cristais

mágicos,

só nosso,

nossa pele,

nossa ânsia

do amor pra sempre.













Mulher de Danos

 

 

Conheci outro dia, na hora  e

na vez.

 

Uma mulher de pêndulos

de amor.

 

Vigiei seus passos

e senti que ela foi

feita pra mim.

 

Mas, meu bonde parou,

ao descobrir que

tal mulher, de várias

janelas,

também nasceu prá mil

outros colos

e outros de danos!

 

Azar meu!

 

Sou de descobertas,

mas não entendo de

amor em conserva!

 

Vai daqui,

corre de lá:

a mulher que eu queria

é linda de pódio,

ê coisa de fazer

triângulo

com mil homens.

 

E aprendi: com mulher

de danos,

não dou uma flor,

e sequer um ramo!

É aquela história :

fui morar

numa estrela sem luz !

 










 

 

Festa do Amor Imperfeito

 

 

Hoje é dia de festa, 
todo mundo se confundindo 
com amores e passas. 
 
Hoje é dia de festa, 
dos gordos comensais,
 e dos definhados colossais 
lá na estrada dos Pinherais. 
 
Cada um vai levar 
uma canção, 
outros, meio-deuses, 
levarão cifões de vinho. 

Uns levarão a mulher, outros
a mulher do  próximo e, muitos
outros, mulheres adultas,
avulsas e comedidas.
 
Hoje é dia de festa 
e pra começar 
já estou indo, 
ao lado dela, 
bem vestida de cachemira, 
numa revoada alada, 
bronzeadas de saia
feita com arroz doce.

Pois não sou mais seu amor: 
sou seu fim - que nem história teve. 
 
E nenhum coração conquistou, 
mas vou atrás dela 
que me roça o rosto com 
avidez de talco morno. 

 














 

Amor de Três Vezes

 

 

 

Descubro, a cada momento,
uma coisa feliz e alada,
dentro do minuto,
que faz na gente,
e me faz
ouvir e falar.

 

E tento ser
guerreiro
nestes dias
de névoa.

 

Pobre resmas de
princesas!

Tento ser igual,
tento vestir o tempo,
falar a língua do povo,
agir como feliz.

 

Difícil é a tarefa.
Difícil é a meta.

Rarefeitos são os 
que revoam
pela  noite
dentro do nada,
pois onde há início
às vezes não há fim.

Meu amor, tem três
vezes ataques de solidão.


Em todos sou sombreiros
de seus cabelos,
particular hospedeiro
de suas ânsias,
verdadeiro dissipador
de seus remorsos,
muitas vezes, somente
caseiro.

Pois assim sendo,
vivo a beleza da vida
que não tem fim,
pois nada tenho,
apenas flores de amor.

 

O trovão azul

que também
me
assola,
com flechas de rumo,
que me ferem,
com pedras de azeite,
e me arrolam em sonhos.

E faz da vida nosso
eterno momento!
Pois partir é o vazio
mas a volta é sentimento !

 











 

Forma e Barro

 

 

Sou forma 
e barro, 
cumbuca aleijada 
de abas tortas; 
que, agora, 
rosco e me esrosco, 
na lembrança dela. 
 
Sou força 
e desalento. 
 
Paramento sem festa, 
dúvida de qualquer sol,
dúbio nos pensamentos !
 
Sou cor virada, sem tom, 
que desabrocha no verão 
sem flores,
sem qualquer espécie
de lado bom.
 
Sou amaciador de pássaros, 
andador de ruas, 
passageiro fugaz 
de avenidas empoeiradas 
de luzes sem  vassalos. 
 
Sou forma 
e desamparo, 
roda de passar, 
gente de ver, 
gosto pra provar, 
vítima ocasional 
da vida que passa. 
 
Sou forma e barro, 
rosco e me enrosco, 
na lembrança dela, 
que dorme vestida 
de esperança em 
algum lugar 
do meu passado, 
que se perdeu 
no tempo 
de minha vida
de lasco, perdida.
 
Hoje, na virada da vida, 
procuro e não acho 
coisas delas. 
 
Partiu, sem sentido, 
pra lugar nenhum, 
lugar que nenhuma aliança 
de amor alcança. 
 
Mas, no fundo, 
rosco que me enrosco, 
sei que partiu, 
pra terra do longe, 
onde sonolentam os ouvidores 
onde sonha minha vida. 
 
E da vida, sei: 
nunca mais vou 
vê-la: 
não tenho contratos 
de sabedoria com 
a paz dos santos. 
 
Não sou mais alvenaria
do espírito,
nem corda
truncada no pescoço
dos lordes.

 

 

 

( Dedicado à Ticiana )

 




















 

 
















 

José Kappel
Enviado por José Kappel em 06/02/2023
Reeditado em 03/11/2023
Código do texto: T7712618
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