Nascente
Os dias eram assim. Lamentar o que não foi. Esperar pelo amanhã.
Entrou em casa, tirou as botas e o cinto com o facão. Sentou e suspirou. Pensou na vida.
Desde que sua mãe morreu há dois anos vivia ali sozinho. Cuidava da terra, dos animais, das plantações, prestava serviços técnicos para os fazendeiros em volta.
Algumas vezes a solidão doía muito. Quando tinha sua mãe um consolava a solidão do outro e iam vivendo sua vidinha sem graça.
Tomou um longo banho, pensamento longe, vago, nem sabe onde.
Como sempre preparou seu jantar que lhe serviria também de almoço no dia seguinte.
Não tinha mais a mãe pra lhe fazer sempre uma comida fresquinha e companhia à mesa.
Pensou em sua solidão. Há tantos anos aquela garota lhe tirou a ilusão, a fé no amor e a alegria de viver. Amou demais e recebeu apenas desprezo e engano, desilusão e traição. Não foi mais capaz de amar.
Balançou a cabeça como que para espantar o pensamento.
Lembrou da mulher com quem trabalhou alguns dias em uma fazenda. Sorriu. Era linda e interessante, simpática e agradável. Contaram um ao outro a sua história e solidão.
Na despedida se abraçaram.
Ah! Que doce e terno abraço!
Se tivesse coragem ligaria…
Olhou o celular e pensou como seria bom se ela ligasse. Ainda que só por amizade.
Arrumou a bagunça que fez na cozinha. Seu pensamento continuava naquela mulher.
Numa rotina interminável fez tudo o que sempre fazia. Mais uma noite vazia.
E o celular tocou, seu coração disparou.
Era ela.
Conversaram banalidades, coisas do dia a dia, trabalho e enfim o convite:
—Venha me visitar…
Ele foi.
O abraço terno se transformou em beijo ardente.
As carícias esquentando e se transformando em louco desejo.
Corpos se tocando, colados como se fossem um.
Entre carícias e prazer se perderam. Perderam o juízo e a noção do tempo.
Numa entrega cheia de paixão se amaram.
Paixão, amor nascente.
Solidão nunca mais.