Diego saiu exausto do trabalho, mas ainda tinha aulas na faculdade. Precisava de um café. Estacionou o carro numa rua paralela ao escritório e viu uma cafeteria ali. Tinha certeza de que nunca a tinha notado antes.

 

Ao atravessar a porta giratória, uma névoa fina — ou talvez fumaça — encobriu sua visão por um instante. Ele piscou algumas vezes. Seria o cansaço? Mas, assim que entrou, a névoa desapareceu.

 

Observou o ambiente. Havia apenas uma mesa vazia. E então percebeu algo curioso: todas as outras eram ocupadas por uma única pessoa. Ninguém acompanhado. Diego franziu a testa. Todos ali estavam sozinhos.

 

Sentou-se na única mesa disponível e encontrou o cardápio já aberto. O nome do lugar estava escrito em letras douradas:

 

Café Singular.

 

Fazia sentido. Diego riu. E a mulher sentada na mesa ao lado disse:

 

— Eu não sei mais o que é rir sozinha. Eu me sento, tomo duas xícaras de café com silêncio. E espero, espero, espero…

 

O que ela esperava? Talvez a pergunta fosse quem? Diego parou de sorrir e olhou para a mulher. Os cabelos castanhos caíam um tanto desalinhados sobre os ombros. O batom vermelho marcava mais a xícara de porcelana do que seus lábios. Os olhos eram amendoados, e as pálpebras esfumaçadas emprestavam um ar misterioso ao olhar.

 

Diego lembrou-se de uma professora que teve no primeiro ano da faculdade, com o mesmo olhar. Ele não sabia definir se era mistério ou vazio. Mas sentia uma ternura gratuita por ela. Talvez até sentisse um pouco agora pela estranha. Gente solitária o comovia. Logo ele, sempre tão rodeado de amigos.

 

Por pura gentileza, disse:

 

— É a primeira vez que venho aqui.

 

A mulher retrucou:

 

— Esse café é uma espécie de cassino. — Ela inclinou-se para frente, como se compartilhasse um segredo. — No lugar da roleta, jogamos com a esperança. Em cada uma dessas mesas, uma pessoa faz seu jogo. E espera reencontrar o grande amor de sua vida. — A mulher fez uma pausa, olhando para a xícara quase vazia. — O amor é sempre uma aposta, não sabia?

 

Uma parte de Diego dizia: Levanta, cara, vai embora. E a outra queria entender o que significava aquilo. 

 

A mulher tomou o último gole de café, pegou a bolsa e, antes de se levantar, disse:

 

— Não tenha pressa de entender o amor. Deixe-o vir.

 

Então, ela saiu.

 

Diego piscou, atônito. A mulher atravessou a porta giratória e… desapareceu na névoa.



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Enviado por Dolce Vita em 20/03/2025
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