Invisível? Quem Se Importa?
Desde a infância fingia que não se importava por se sentir invisível e com o abandono que vivenciava na presença dos pais e irmãos, mas sua alma chorava em silêncio.
Durante sua vida sempre fingia que não se importava com as humilhações, com os sapos engolidos, com a falta de amigos, com a falta de convites, com a falta de valor, com os descasos, mas no escuro do seu quarto chorava sozinha.
Fingia que não se importava com os sonhos não realizados, com as frustrações, com os fracassos, mas seu coração sangrava em silêncio.
Fingia que não se importava com a solidão mesmo na presença de outras pessoas, mas seu corpo reclamava e adoecia.
Fingia que não se importava com os abusos emocionais, críticas descabidas, bullyings, mas sua alma gritava por socorro.
Fingia que não se importava quando se sentia explorada e injustiçada, mas seu coração se revoltava.
Fingia que era feliz, mas sentia no corpo e na alma o peso da infelicidade
Um dia cansou de fingir que não se importava.
Não tinha mais saída.
Não sabia viver de outra forma.
Não sabia expressar seus sentimentos.
Chegando em casa tomou todos os comprimidos dos frascos de ansiolíticos.
Deitou e começou a imaginar uma vida onde não fingisse que não se importava.
Sonhou com uma vida livre, com tudo a que tinha direito.
Uma vida em que era respeitada e valorizada,
Em que reconheciam suas qualidades e direitos.
Que lutava por seus sonhos.
Era um sucesso.
Era amada…
Viu-se bailando no ar, dançando na chuva, cantando alto.
Feliz…
No dia seguinte sentiram sua falta.
Ela não cumpriu suas tarefas.
Onde estaria aquela preguiçosa?
Foi encontrada em sua cama, com um leve sorriso nos lábios.
Passadas as exéquias e a missa de sétimo dia tudo voltou ao normal
Nem se importavam com ela…