O olho mágico do desejo

Todos os dias, de segunda a sexta, cerca de 10 minutos após o marido sair para trabalhar, ela sentia aquele irresistível aroma que vinha do hall dos elevadores. Corria para porta da rua, se apoiava levemente na ponta dos pés e olhava pelo olho mágico. Lá estava ele, seu tentador vizinho de porta, um homem com quase 1,90m de altura, de corpo elegantemente atlético, grisalho, moreno, aparentando 40 anos e poucos anos e, até onde se sabia, solteiríssimo, um verdadeiro deus grego que havia se mudado para lá havia 8 meses.

Ela estava em êxtase com sua nova rotina diária de se deixar guiar pelo olfato e chegar imaginariamente a um estranho através do olho mágico da porta de casa, e se deliciava com a inebriante fragrância que dava personalidade àquele deus grego, abrindo espaços lacrados em sua mente como se fosse uma senha encantada que alforriava seus mais recônditos desejos, libertava seu corpo e sua imaginação e estimulava seu instinto feminino a utilizar seus recursos naturais, sem nenhum pudor, em toques e movimentos que a faziam atingir um prazer absolutamente desconhecido.

Foi assim por meses até o dia em que seu marido saiu para trabalhar, os 10 minutos venceram, o perfume não exalou e muito menos o deus grego surgiu no hall dos elevadores.

Desolada e confusa, porque já se encontrava plenamente habituada em se satisfazer matinalmente utilizando aquele modelo de voyeurismo, ela gelou. Sem opção e sem ter a quem recorrer, resolveu dar plantão na porta e grudar os olhos naquele bendito olho mágico. A vigília começou às 7:10h. Ela não se afastava da porta nem para ir ao banheiro. Quase 2 horas depois, rigorosamente às 09:04h, ela viu a porta do vizinho se abrir lentamente e em seguida viu um rosto familiar observar gatunamente de um lado para o outro se a área estava livre de testemunhas para escapulir. Era o marido dela.