O pneu rolava estrada abaixo, como se vivo fosse, à busca de um destino. No desenrolar da roda, que gira ao acaso, o inanimado parece se animar com sua rota. Um circular contínuo, parecendo meio sem tino, mas que no seu andamento gera fatos. Deslocar do ar, olhares atentos, medo com o movimento e deixando marcas no cimento.
Quem é? Quem foi que colocou o mundo nesta condição, situação? Vezes não importa quem, quando, ou o que passou enquanto, mas apenas as consequências do desenrolar em prantos.
Para tudo há decorrências, de um simples que complexa o que então de pacífico estava, se transforma em transtorno, revolta e pânico a sua volta. Nada é um acaso, um simples caso, mas sim a falta de percepção de que para toda ação há reação. Sempre um segundo encalço.
Uma mão na rosa, ou na haste em espinhos que afronta. E a magia do perfume, o hipnotismo o lume, não importa. A rebeldia bate à porta e do que era odor gera a dor e a destruição do que não é mais belo. Tal como flor é o amor que se esgota, quando a atenção não mais importa e a transformação bate à porta, consequências.
Um poste dobra-se à força bruta. Um carro destroçado, dentro as vítimas, vidas no fim de sua luta. Um pneu lhe falta. Como um membro perdido. Lança-se ao vago, mas significativo desígnio. Em sua curta existência.
Vai-se vida, vai-se amores, vai-se membro, pneu em suas dores. Desce a rua na contramão do destino, em um improvável seguimento atropela quem só seguia no cimento. A derruba em ferimentos, num determinado momento, em que é gerado, outra linha no tempo.
CONSEQUÊNCIAS.