Eterno Outono
O Relato da Árvore
Naquele dia parecia tudo mágico. O outono estava quase chegando, e minhas folhas caíram completamente. Logo vieram novas folhas flores e cores. E tudo se repetiria novamente. Depois disso essa estação passou a ser a minha preferida, por me fazer lembrar que tudo se renova mesmo que precise cair tudo e desnudar a alma. Todas as estações do ano nos mostram alguma coisa e nessa em particular ensinou-me que todas as folhas de nós podem cair, mas continuam os galhos, o tronco e as raízes.
Minhas transformações me fizeram chorar muito. Doeram a um ponto tão absurdo que eu não queria mais estar viva para senti-las. Tudo me doía profundamente. E quanto mais eu doía, mais eu diminuía. Quanto menor eu ficava, mais assustador o mundo se tornava. Eu não sabia nem mais quem eu era. Eu queria sumir de mim mesma. Queria esquecer toda a minha vida e só lembrar do presente. Queria esquecer onde nasci, onde cresci, onde fiquei triste. Queria chorar todas as minhas lágrimas possíveis sem ser incompreendida. E por perceber que não as lágrimas possuem mistérios inquestionáveis, preferi ficar sempre em silêncio.
Daquilo que fui no outono, não sobrou muita coisa. É como se fechasse todas as folhas que caíram dentro de um baú secreto. Sei que está ali, e hora ou outra uma folhinha teimosa cai e coloco para dentro novamente. Aprendi a ser as outras estações em uma só. Acho que todos nós somos assim, mas sempre temos alguma que predomina mais em nós e sopra forte como o vento do fim de tarde. Aprendemos que nada é constante, até as estações se invertem. Dentro de nós é a mesma coisa. Nada é certo e muitas vezes, as rotas mudam e usamos casacos em pleno verão.