FOME
Quando o ônibus entrou sacolejante no trecho esburacado da estrada de terra, a alça da bolsa de pano puído do senhor de olhos cansados não resistiu.
Rolou a garrafinha pet cheia de café frio.
Rolou a marmita, que bateu no pé de alguém e abriu.
Ficaram espalhados pelo chão o arroz e a pipoca.
As crianças riram. Alguns adultos, também.
A ex-professora, que seguia para um velório, não.
Chorou pelo morto ausente e pela falta de empatia presente.
Uma das estudantes fotografou, postou na rede social e legendou:
“Gente, alguém já viu pipoca de mistura? kkk.”
Não tinha a noção que surpreendente não era o tipo da mistura, mas a presença do arroz.