A pedra e o rio.
O senhor, octagenário, sentado, encarava a fotografia de quando tinha apenas nove anos. Quantas rugas venciam seu rosto, em completa dissonância da facezinha imberbe, brilhante de criança? E a cabeleira? A cabeça raspada livrava de ver a brancura de então. Não são essas marcas frutos da velhice? Insígnia de uma vida longa? Razão de alegria? Das décadas vividas, apesar de somente depois de uns cinquenta anos ter percebido, tivera capacidade e experiência suficientes para saber disso. Não julgueis esse personagem com pensamentos mundanos nem imaturos. A pintura: os traços negros, máculas do vazio da tela, alvíssimo, a formar uma pedra com rachaduras bem no centro de uma corrente d'água. Quis ele tatear a figura do menino, tomar para si o que fora seu: o sorriso. Então, eu abri a porta. Ele não se virou para ver.