MORMAÇO

Olhou para o alto. O céu cinza se repetia. Ah, se ao menos esse chumbo fosse feito de nuvens grávidas. O velho seguia devagar em meio à plantação. Acariciava os pés de milho mirrados. Sabia que mesmo se a água chegasse logo, as espigas viriam pobres, com os grãos pequenos e esbranquiçados como os da pipoca. Mas se ela não viesse veriam a cara feia da morte. Como alimentariam os bichos. Passou a mão na testa molhada como se buscasse o sinal de um próximo milagre naquele mormaço. Sara, sentada à porta, relembrava o cheiro gostoso da terra molhada.