FOLHAS SOBRE A RELVA
“Cada floração destas árvores”, explicava o avô, “representa uma geração. Como se o mundo também fosse uma árvore, e cada um de nós, uma folha”.
Mas não havia floração nenhuma. Pelas trilhas do bosque, pessoas caminhavam ao pares, agasalhadas; umas corriam, outras iam sozinhas ou a passeio com seus cães. O velho continuou:
– E nós também temos nossas quatro estações. Você está desfrutando da primeira. A primavera. Já eu... eu estou na última. Esse inverno.
Ao capricho do vento, as árvores se desfolhavam. No gramado formava-se um tapete de folhas mortas.
– Vê aquela árvore?
– Sim, está toda desfolhada– comentou o neto.
– Não totalmente. Veja – o avô apontou. – Ainda resta uma folha.
E o menino:
– Ela não quer deixar o galho – disse.
– Quase sempre não queremos – o velho suspirou. – Acho que devemos voltar. Esse vento. Não está com frio?
O neto negou com a cabeça. O inverno parecia não tocá-lo.
[gORj]