Mensageira.
Todo dia eu ansiava o encontro, há semanas ocorrendo. Aparecia, do outro lado da janela, sempre faceira, querida — o rosto se erguia, entortava, para melhor ver, pela fresta da porta, a minha chegada. Na primeira vez, sua presença foi apenas uma surpresa: as incomunhezas. Depois, quando retornou, no outro dia — e assim sucessivamente —, tomei grande alegria. Conversávamos muito, às vezes sem precisar falar nada: sintonias. Apenas uma olhando para o outra. Passei até a pensar: será um anjo? Um ser especial, dos altos, essas forças de luz, em matéria, surgido para algum recado? Para teste? Para transmissão? Cogitações. Enlouquecia? De bondade, sim. Mas chegou hoje o momento que, como todos esperam — apesar de fecharem os olhos para tal — aquilo que amam sumir, minha amiga não apareceu. Olho para o céu e vejo tantas. Para qual janela foi voar, minha pombinha?