"Conhece a ti mesmo"
Certamente passara tempo suficiente em suas andaças, via-se os pés: rachadíssimos, cuja profundidade dos raios pretos explicitava um tempo tão inderteminado de grande descuido; o corpo. E isso crescia: dos tornozelos e panturrilhas acintenzadas de ressecamento, ostentando grossas veias roxas, inchando as pernas e, aos poucos, passando para a coxa; os joelhos salientes, com um círculo tão acentuado; a magreza visível... Todo o corpo deteriorado, tendo, sua pele, virado madeira senhora, desconhecedora de água. Toda essa aparência decadente, de rosto contrastado do bronze surrado e os longos fios prata de uma mortalha rasgada, surgia, de repente, na cidade, pelas ruas, com decidido caminho, em meio ao oceano que o cercava e negava integrá-lo a si. Flutuou as escadarias, pois os olhos se voltavam apenas para o céu, nenhuma dor vencedora, e chegou ao pátio, dizendo: — Enfim, posso dizer que me conheço.
Nesse instante, seu ser se tornou ouro reluzente.