O tempo.
Frente a uma fogueira, ponto flamejante no meio de lençóis de neve, ensimesmado estava. Muito frio. Um resfriado se denunciava pela vermelhidão no nariz e a coriza. Abraçava-se à espada encapada, enquanto mantinha um olhar misto de tédio e tristeza, mas, principalmente, de nada; um semblante que apresenta, no fundo, um vazio. Não vá pensar no vazio abismal, como é costume de muitos; pense apenas no nada, como antes de Deus se tornar o Criador. E será possível? Essas imagens enigmáticas do seres humanos...
Os pensamentos evoluíram: começou pensando em sua solidão, da vastidão da terra enevada, clareada pelo sol branquíssimo e frio, na saudade de alguém que prometera encontrar, da destruição de sua terra, há idos anos, antes de adormecer por décadas, além do infeliz fato de se saber estrangeiro da própria realidade. Precisava saber. Alguém necessitava desesperadamente de si, mas isso foi há vários anos atrás... Como está agora? Que fazer? Um redemoinho no espírito: não saber do passado nem do presente - e, nisso, destruir o futuro. Depois de todos esses pensamentos, reduzia-se num sensibilismo: percebia toda a atmosfera, cada fio dos tecidos grossos e macios que esquentavam seu corpo, o som das veias e o calor do sangue correndo pelo corpo; tudo. E nisso passava um longo período. Nesse dia, ele já havia pensado, novamente, tudo o que sua memória permitia - e que suas aflições produziam. Passado o estágio de ser natureza, não havia, mais uma vez, chegado a um ponto, mas eis a graça: as colinas sopraram e sua direção, e o fogo tocou de leve seu dedo; sentiu o calor. Repentinamente, entrou no presente.