RECÉM-CASADOS
Acordou de madrugada e foi à cozinha beber água. No azulejo próximo ao filtro de barro viu um grupo de formigas andando apressadas em fila indiana. Teve um lampejo romântico. Abriu a geladeira, apanhou um pote contendo calda de pêssego e, com a ponta do dedo, pôs em prática a sua doce e pegajosa ideia.
Pela manhã, a mulher surpreendeu-se com aquela pequena aglomeração de formigas na parede da cozinha. Formavam um coração e, abaixo, em letras vivas e fervilhantes, as três iniciais de “eu te amo”.
Emocionada?
Nem um pouco. Sua reação foi a mais prosaica possível. Apanhou um inseticida e, pulverizando-o sobre o local, acabou com aquelas infelizes que, involuntariamente, serviam a um amor mal correspondido.
[gORj]