2. RABISCOS

Eram retumbantes, diabólicos, o emaranhado de rabiscos impregnados no âmago de sua psique. Rabiscos desdenhosos do desespero emudecido. Nas janelas da alma, o olhar desabitado de vigor, semelhantes ao de um defunto fugido desgraçado da vida.

Cambaleou, caindo no sofá sem cerimônia, rindo em seguida, em puro desgosto. Levantou a manga e apanhou do veneno. Em ação impensada, serviu-se. A agulha trêmula, sem delicadeza, forçada para dentro da pele arroxeada, machucada. Injetou-se de novo, e de novo, não, dessa vez só mais um pouquinho, apenas mais quatro doses. Mais uma. E pronto.

Desabou em exaustivo torpor. A seringa pendurada, negligenciada dentro da artéria braçal dolorida, traumatizada. Em estado de zumbificação o corpo pesou, e a consciência se perdeu, dissociada da realidade.

Ansyel Violet
Enviado por Ansyel Violet em 31/03/2023
Reeditado em 14/10/2023
Código do texto: T7753201
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