2. RABISCOS
Eram retumbantes, diabólicos, o emaranhado de rabiscos impregnados no âmago de sua psique. Rabiscos desdenhosos do desespero emudecido. Nas janelas da alma, o olhar desabitado de vigor, semelhantes ao de um defunto fugido desgraçado da vida.
Cambaleou, caindo no sofá sem cerimônia, rindo em seguida, em puro desgosto. Levantou a manga e apanhou do veneno. Em ação impensada, serviu-se. A agulha trêmula, sem delicadeza, forçada para dentro da pele arroxeada, machucada. Injetou-se de novo, e de novo, não, dessa vez só mais um pouquinho, apenas mais quatro doses. Mais uma. E pronto.
Desabou em exaustivo torpor. A seringa pendurada, negligenciada dentro da artéria braçal dolorida, traumatizada. Em estado de zumbificação o corpo pesou, e a consciência se perdeu, dissociada da realidade.