1. TRILHOS
Sem avisar, saiu para as ruas desertas consumidas pelo frio do inverno. Deixou tudo para trás. Guiou-se, sem rumo, pelas vielas imundas. O céu observou quieto seus passos perdidos. Chegou aos trilhos, deitou. Encarou a lua cheia quase encoberta pela névoa gélida, e suspirou fundo. Ao longe, o trem vinha à todo vapor.
No breu noturno, o maquinista e passageiros nem notaram quando o comboio passou violento por cima de seu corpo, esmagando, dilacerando. No fim, sobraram apenas as carnes e vísceras mutiladas espalhadas pelos trilhos, que serviriam de alimento para os cães da região.