ESPELHO
Tinha uma cristaleira, guardava objetos e delicadezas.
Delicadezas que um espelho tornava objetos. O espelho da cristaleira era no fundo. E, no fundo, tudo e mais me doía.
Ajoelhado, o espelho via a mim, via minh'alma -- a triste, perdida e comovida alma.
Timunda, pano e rodo, limpava a sala:
-- Menino, para de embaçar o vidro da cristaleira!
-- Né vidro não. É o espelho, Timunda!
-- Olhando demais o espelho quebra, viu?
-- Ai!...
Hoje sei, quebrou-se foi o encanto. Fico com o poeta: "Eu guardo o espelho, / o espelho não me guarda".
Afonso de Castro Gonçalves
da Academia Brasileira de Letras e Artes Minimalistas (ABLAM)
MARAVILHAS -- Cidade-Flor das Gerais.