Meditação
O mundo me toca uma flauta, sons do além, de um incognoscível lugar, com um tambor terno ressoando profundamente; é meu tempo de quietude, muito mais do que contemplação; é o tempo indesejado pela mancha do falso-eu, que dispara as suas facetas coloridas para impedir esse encontro. Tento ignorá-las, tratar como crianças birrentas, deixando que gritem à vontade até desistirem de chamar atenção, pois tenho um compromisso comigo e a verdade. Me faço vento, me esvaio deste mundo, na verdade sou expiração, um ser me suga para si. Eu não estou morrendo - se estiver, é para renascer. Lembranças... odores, aromas, podres ou doces, tem algo que ri no externo, mas não busco saber se essa risada é zombeteira ou daquelas de avós segurando o neto no colo, são mistérios, e devem permanecer sendo. E a permanência aguarda a mudança, como as retinas aguardam o desabrochar da flor, a mudança de liberar-se desse plano ainda limitado ao corpo, que é necessário, mas tem tempo certo para virar, também, ar - abri meus olhos.