O ESPELHO

 

          Tinha uma cristaleira -- quardava objetos e delicadezas. Delicadezas que um espelho tornava objetos. O espelho da cristaleira era no fundo. E, no fundo, tudo e mais me doía.

               Ajoelhado, o espelho via a mim, via minh'alma, a triste, perdida e comovida alma.

               Timunda, pano e rodo, limpava a sala: 

               -- Menino, para de embaçar o vidro da cristaleira!

               -- Né vidro não. É o espelho, Timunda!

               -- Olhando demais o espelho quebra, viu?

               Ai!...

               Hoje sei, quebrou-se foi o encanto. 

               Fico com o poeta: "Eu guardo o espelho / o espelho não me guarda". 

 

 

Afonso de Castro Gonçalves

Membro fundador ABLAM, cadeira 02

Patrono: Millôr Fernandes.    

                

 

  

Afonso de Castro Gonçalves
Enviado por ABLAM em 11/09/2022
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