O ADOTADO
Criava um bode dentro de casa. Toda tarde, era certo vê-lo passeando pelas ruas da cidade com o animal.
- Êta bode cheiroso! - Exclamara certa feita, alguém na rua.
- Também pudera, o dono só passa perfume francês no bicho - esclarecera um outro.
- Tanta gente passando necessidade, e Seu Antônio desperdiçando dinheiro com um bode! - Costumavam ouvir da vizinha.
Sr. Antônio era viúvo e aposentado da Receita Federal. Não tivera filhos, e quando a esposa faleceu, adotou um cabritinho que viera a se transformar no ora formoso bode. Os cuidados com o bicho eram tantos que, preocupado com o futuro do adotado, chegara a consultar o banco sobre a possibilidade de pagar uma previdência privada para esse. Vendo negada a sua intenção, dizem ter feito um testamento deixando para o caprino, a sua herança. Mas o destino pregou-lhe uma peça. Certo dia, passou em frente à sua casa um pastor carregando um rebanho de cabras; ao sentir, de dentro de casa, o cheiro dos feromônios emitidos pelas fêmeas, enlouqueceu; pulou a janela e desembestou no rumo das cabras, desaparecendo de uma vez por todas da vista do protetor.
Depois desse dia, Sr. Antônio desapareceu do convívio com os concidadãos, só reaparecendo meses depois, passeando com um elefante.