Quando a neblina sumir
Ele era ainda muito pequeno quando sentiu medo da neblina pela primeira vez. O desconforto vacilante de querer seguir, mas com receio do que estava escondido ali no meio. E como ainda acreditava em Coelhinho da Páscoa, foi fácil assumir o medo:
- Só vou quando a neblina sumir!
E deu meia volta.
Da segunda vez que quis seguir e a neblina, com seu mistério, o impediu, já tinha espinhas no rosto e algumas vergonhas na cabeça. Por isso, para assumir o medo precisou fingir uma sabedoria calma:
- Pra que pressa? Um dia ela some, e aí fica de boa.
E deu meia volta.
Da terceira vez em que a neblina o assustou por não deixar ver o que tinha adiante - e ele queria tanto ir adiante -, já era homem feito de obrigações e ranzinzices. O medo encontrou a forma dum cansaço resignado:
- Bem, se um dia sumir...
E deu meia volta.
E o dia chegou: a neblina esvaneceu aos poucos até sumir. Um sol provocador iluminava tudo.
Mas o homem, que ansiava pela perda do medo junto do sumiço da neblina, estacou por uma quarta vez.
Porque o que viu era um caminho que se dívida em dois, depois em mais cinco, então em outros sete, e assim por diante, coalhando o horizonte de um mapa de muitas divisas e infinitos lugares.
Um pensamento infantil correu a cabeça do homem: e não devia ser um só caminho?
O rosto enrugado torceu-se sem saber se era um sorriso de ironia ou desespero. E quem olhasse a cena de longe veria um velho dando meia volta.