UM CONTO SEM FADAS

A festa dos meus quinze anos efetivamente não poderia ser chamada assim, nem mesmo se festejo frugal, pois na verdade não passou de uma simples e mera reunião informal com os colegas escoteiros e bandeirantes. Meus pais, na humildade de suas condições financeiras, optaram por não deixar passar em branco esse dia tão expressivo e único, fizeram tudo que podiam para torná-lo alegre e, ao menos, uma lembrança boa que eu levaria na minha jornada da vida. O tudo, explico, se materializou num bolo fofo e duas jarras de ponche. " Pronto meu filho, chame os escoteiros e as bandeirantes para comer bolo com ponche e cantar parabéns." Quão grato me senti com o carinho, não me era segredo o sacrifício que fora para eles toda aquela magia da simplicidade. O valor sentimental do gesto, no entanto, se fazia incomensurável.

Obviamente as garotas tinham conhecimento da data, o que sem dúvida não era difícil saber tendo em vista meu prontuário no arquivo do grupo de escoteiros. Então, elas resolveram fazer uma surpresa para o aniversariante com um presente baseado no meu gosto musical de vez em quando ressaltado em nossos encontros de lazer. Entre os sucessos da época, havia uma música que se tornara quase indispensável nas minhas cantarolagens cotidianas. Tratava-se do hit O Bom Rapaz, interpretado por Wanderley Cardoso. Tomando todos os cuidados para não chegar aos meus ouvidos, elas compraram para mim, e, claro, fui surpreendido com o presente durante os parabéns, um disco de vinil(ainda estavam nos sonhos adormecidos dos inventores os cds e demais criações do futuro) do cantor da Jovem Guarda.

Repito, apenas com o objetivo de esclarecer, que eu não sabia dos planos das bandeirantes e não desconfiava nem de longe que seria presenteado com um disco de Wanderley Cardoso. Mas a melhor e mais agradável surpresa, que somente me contaram depois como a coisa foi engendrada e após realizado com sucesso o plano, foi conquistar uma garota bandeirante que há muito eu paquerava. Ela se chamava Lúcia e tinha dito confidencialmente às amigas, entre risinhos cúmplices, que iria namorar o aniversariante. O anelo dela se tornou realidade, nós nos tornamos namorados naquela modesta noite dos meus inesquecíveis quinze anos, no momento em que ela própria me entregou o disco de Wanderley Cardoso de presente.

Natal RN, 21/06/2022

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 21/06/2022
Reeditado em 22/06/2022
Código do texto: T7542394
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