NO MEIO DA FESTA, O DESESPERO
Ninguém em sã consciência pensaria ser possível acontecer o que presenciamos certa noite de outrora, numa festa de amigos em que a alegria dava o tom ao momento. Alguns bebiam tranquilamente, outros conversavam animados e riam por qualquer bobagem, muitos namoravam ou xavecavam no anelo de conseguir companhiai, de maneira que a animação tomava conta dos convidados.
O acontecimento festivo acontecia no décimo andar de um condomínio, tanto na enorme sala quanto na grande varanda que proporcionava uma linda vista do mar de ondas suaves adiante. Tudo, portanto, era encanto e diversão e o ambiente feliz prometia adentrar a noite e correr pela madrugada. Havia gente encostada no parapeito da varando bebericando e rindo enquanto a turma que dançava fazia gestos amistosos típicos de instantes congêneres.
Em meio a essa alegria natural, a música no ar despertando emoções, mais que de repente, um dos convidados subiu na parede de proteção, sob o olhar assustado da turma, bebeu um farto gole de cerveja e saltou. Foi uma correria geral, a música parou e o silêncio, quebrado somente por suspiros e gemidos femininos, reinou quase absoluto. A morte do sujeito, certamente, parecia inevitável. Estavam todos chocados olhando a cena dantesca.
Mas, então, algo inesperado aconteceu. Ao invés de despencar em poucos segundos e se estatelar no chão, o idiota que pulará começou a flutuar no espaço vazio. Seu corpo, que caíra de bruços, subitamente ficou ereto após um movimento de cabeça e de braços, e ele ficou como se em pé no ar. A seguir, como se em câmara lenta, pouco a pouco, lento como uma folha, desceu sobre a areia da praia e saiu andando na direção do mar. Ouviu-se um "oh!" coletivo de alívio e incredulidade dos que olhavam a cena lá do décimo andar.