UMA MAÇÃ

Diariamente o garoto passava pelas ruas do bairro vendendo maçãs, o balaio cheio delas sobre sua cabeça. Invariavelmente, ele nunca entendeu a razão, um sujeito o importunava zombando de sua humildade e necessidade de trabalhar vendendo maçãs. Sabendo quão frágil era e obedecendo a mãe, que lhe dizia para não entrar em confusão, ele apenas baixava a cabeça e seguia seu caminho.

Talvez a passividade diária do garoto diante das asperezas das palavras do cara o tenha irritado sobremodo, pois naquela manhã ele não somente xingou o garoto como pegou uma maçã e falou que não pagaria. Isso não poderia acontecer, cada maçã valia quase um terço do lucro do menino, aquilo já tinha ido longe demais.

Por coincidência, nesse dia o pequeno vendedor levara no bolso um velho canivete dado pelo avô anos atrás. "Moço", gritou ele, pague a maçã, tenho que prestar contas por cada uma delas." Rindo indiferente e já saboreando a fruta roubada, o irreverente virou as costas e se afastou. O pequeno, chorando, enfiou a mão no bolso e pegou o canivete. Correu atrás do malfeitor, a arma em riste, pedindo o pagamento da maçã, implorando aos gritos. Em vão. Coisa do destino ou não, repentinamente o ladrão de maçã, ao olhar para trás rindo do vendedor, tropeçou e caiu de bruços. Virou-se para levantar raivoso, xingando e ameaçando o menino.

Aos prantos, o canivete aberto, o vendedor de maçãs lançou-se sobre ele e o golpeou na virilha, atingindo a veia cava. A seguir, fugiu correndo e não viu o seu algoz cotidiano estremecendo e se esvaindo em sangue. Algumas pessoas ainda tentaram ajudá-lo, mas a hemorragia o levou à morte.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 02/06/2022
Reeditado em 02/06/2022
Código do texto: T7528999
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