OS TRÊS DA MORTE

Eram três os considerados pelo povo da cidade como amaldiçoados: Carlos, Lupino e Iran. Um estava ligado aos outros e vice versa. Eram homens ricos, grosseiros e arrogantes, daí a ideia popular de que eram secretários do maligno. O pior é que eles não faziam nada para mudar essa imagem, pelo contrário! Tratavam mal a praticamente todos, principalmente aos humildes e aos pobres empregados de suas empresas, então, não é anormal que fossem detestados.

Quando Carlos morreu de câncer o populacho vibrou, e falavam à boca pequena: "agora faltam dois". Percebia-se um certo alívio nessas palavras. Pouco tempo depois, por suicídio, Lupino também faleceu. Atirou na própria têmpora e morreu instantâneamente. Novamente a população que o odiava suspirou um tanto sorridente: "Agora só falta um."

O Iran, único sobrevivente da trinca odiada, persistia nos seus modos petulantes, dos três parecia o mais presunçoso, e quanto mais assim agia mais era odiado. Certa tarde, inesperadamente, a cidade se agitou com a notícia de que Iran havia se matado: falavam que, usando uma afiada faça de cozinha, ele se degolara seccionando a própria garganta de uma jugular à outra.

Diziam que quando o encontraram numa poça de sangue, ainda respirando em agonia, tentavam unir as duas partes cortadas e ensanguentadas com o objetivo de salva-lo, mas ele mesmo, num esforço supremo, afastava as mãos que o socorriam. Como se, com esse gesto tresloucado, quisesse afirmar seu inalienável desejo de morrer. Logo a notícia de seu suicídio se espalhou e o povão, batendo no peito com alívio e, até, um certo ar de alegria, repetia pelos quatro cantos da cidade: "o último deles morreu, não falta mais ninguém."

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 30/05/2022
Reeditado em 02/06/2022
Código do texto: T7527166
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