SUSSURROS.

Confesso, ela estava provocante, estávamos de caminho a cidade vizinha, a van ficou lotada. Antes de sairmos, observei que no veículo já não cabia ninguém, tentei desistir, mas, ela insistia comigo dizendo que se apertasse um pouco mais me caberia tranquilamente.

E assim 'fizemos'. Apertando daqui e dali, eu entrei no carro, sentei-me do lado dela, tendo-a quase em meu colo, pele a pele. Como havia certa distância até o destino final, logo imaginei o quão sofrível seria o caminho. Ter o corpo dela esfregando-se o tempo todo no meu, o doce perfume de seu hálito fresco próximo do meu rosto, o calor das pernas dela nas minhas, quase sentada em meu colo, fiquei em desespero. Eu, junto a janela do veículo, ao meu lado, ela.

Novamente provocação...

Primeiro foi o olhar rápido dela, sem que eu percebesse de início a intenção pecaminosa. Olhar que não diz nada, porém, que tem em si todas as más intenções do mundo. Entre um sorriso e outro, uma brincadeira aqui e outra acolá, conversas, ela olhava-me muito rapidamente, quase ninguém que estava no veículo percebeu suas milícias, tão bem disfarçadas - eu sim - percebi tudo. Fiquei atento, desconfiei, me dei conta de tudo pelo fato dela ter sentado ao meu lado na parte de trás. A van não estava tão apertada assim, acontece que ela ficou provocando, resvalando as pernas grossas vez ou outra em mim. Nas curvas mais acentuadas ela praticamente jogava-se por cima do meu colo. Era uma provocação seguida da outra. Era terrivelmente prazeroso.

O que fazer diante da provocação?

Eu não sabia o que fazer, como reagir. Estava em completo apuros, lutando contra minha própria natureza caída. Não havia como correr, preso entre ela e a janela. A minha matéria pecadora também a desejava, ah! Como eu desejava! Estava querendo a mesma coisa, no entanto, dentro de mim, a voz da razão falava-me quase inaudível dizendo-me para resistir à tentação, porém, o meu coração declinava ao erro, pecaminoso, ardia em desejo de tocá-la. É sempre assim... Externamente eu brincava, falava e sorria para todos no veículo. Internamente, fiquei em uma guerra travada contra o meu eu. Era o homem carnal contra o espiritual.

Desejos descontrolados da minha parte. O coração experimentava desejos impróprios ao ponto de um quase descontrole. Os meus olhos me traíram constantemente, a alma era flagelada pelo coração, dominando-a e a confinando sem que a mesma tivesse poder de reação. Esse meu olhar a imaginava de mil maneiras, tentando evitar o que era inevitável, qualquer outro imaginária também que eu sei. Pobre de mim. Uma quase lágrima de desespero saiu de meus olhos, um quase balbuciar clamando pelo perdão em face dos pecados me corroendo de dentro para fora. Vermes ferozes da danação que me devoravam o tempo todo. O calor da pele dela na minha, a maciez da sua carne, o perfume dos cabelos em cachos.

Tentação das tentações...

Sentimentos em total caos. Sim, foi um caos total, sentimentos fervilhando nesse confuso coração, eu, semi desesperado, comecei a ceder as suas vontades carnais. À medida em que era pressionado contra a porta do veículo, carne contra carne, desejo contra desejo, mudei de tática. Ao invés de evitá-la, me permitir ser tocado, virando-me para ela de modo a senti-la também. Era o fim de minha luta contra a natureza caída, que, naquele momento, venceu a batalha. Fechei os olhos, me posicionando lentamente um pouco mais para ela, de modo que ela também sentisse a firmeza de minha carne. Eu fui ao delírio com aquele inusitado ato de meu próprio pecado.

"Eu, à própria tentação, venci a batalha".

Era o sussurrar do pecado em meus ouvidos, que de olhos fechados, me embriaguei do cálice que Adão bebeu.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 26/05/2022
Reeditado em 26/05/2022
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